quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

RIBEIRO COUTO (1898 – 1963)

Rui Ribeiro Couto, jornalista, magistrado, diplomata, poeta, contista e romancista, nasceu em Santos, Estado de São Paulo, em 12 de março de 1898, e faleceu em Paris, França, em 30 de maio de 1963. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 28 de março de 1934, na sucessão de Constâncio Alves, foi recebido em 17 de novembro de 1934, pelo acadêmico Laudelino Freire. Estreou no jornalismo em 1912, na imprensa de sua cidade natal. Em 1915, iniciou o curso da Faculdade de Direito de São Paulo, trabalhando no Jornal do Commércio, em 1916, e depois no Correio Paulistano. Transferiu-se para o Rio de Janeiro e, em 1919, bacharelou-se na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Publicou o seu primeiro livro de poesias, O jardim das confidências, em 1921. Trabalhou em diversos jornais, até 1922. Participou da Semana de Arte Moderna e, em seguida, retirou-se para o interior de São Paulo, em tratamento de saúde. Naquele ano saíram os volumes de contos A casa do gato cinzento e O crime do estudante Batista. Residiu dois anos em Campos do Jordão, passando a exercer depois o cargo de delegado de polícia em São Bento do Sapucaí. Nomeado promotor público em São José do Barreiro, ocupou esse cargo até 1925, ano em que se transferiu para Pouso Alto, MG, em busca de um clima propício à sua saúde. Ali exerceu a promotoria pública até 1928. Nesse ano regressou ao Rio de Janeiro, entrando para o Jornal do Brasil como redator. Designado para o posto de auxiliar de consulado m Marselha, partiu em fins de 1928 para aquela cidade francesa, tendo trabalhado junto ao Itamarati em diversos locais e cargos, tendo se aposentado como embaixador do Brasil na Iugoslávia. Durante a sua permanência na Europa, ocupou-se também de divulgar a literatura brasileira. Não interrompeu a colaboração para o Jornal do Brasil, O Globo e A Província (de Pernambuco), sobre literatura e acontecimentos do estrangeiro. Entre suas principais obras em poesia, encontram-se: O jardim das confidências (1921); Poemetos de ternura e de melancolia (1924);Um homem na multidão (1926); Canções de amor (1930); Noroeste e outros poemas do Brasil (1932); Província (1934); Cancioneiro de Dom Afonso (1939); Cancioneiro do ausente (1943); O dia é longo (1944); Rive etrangère (1951); Entre mar e rio (1952); Le jour est long (1958); Poesias reunidas (1960); Longe (1961).







Soneto da fiel infância


Tudo que em mim foi natural — pobreza,
Mágoas de infância só, casa vazia,
Lutos, e pouco pão na pouca mesa —
Dói na saudade mais que então doía.

Da lamparina do meu qarto, acesa
No pequeno oratório noite e dia,
Vinha-me a sensação de uma riqueza
Que no meu sangue de menino ardia.

Altas horas, rezando no seu canto,
Minha mãe muitas vezes soluçava
E dava-me a beijar não sei que santo.

Meu Deus! Mais do que o santo que eu beijava,
Faz-me falta o cair daquele pranto
Com que ela junto ao peito me molhava.


***


Elegia


Que quer o vento?
A cada instante
Este lamento
Passa na porta
Dizendo: abre...


Vento que assusta
Nas horas frias
Na noite feia,
Vindo de longe,
Das ermas praias.

Andam de ronda
Nesse violento
Longo queixume,
As invisíveis
Bocas dos mortos.

Também um dia,
Estando eu morto,
Virei queixar-me
Na tua porta
Virei no vento
Mas não de inverno,
Nas horas frias
Das noites feias.

Virei no vento
Da primavera.
Em tua boca
Serei carícia,
Cheiro de flores
Que estão lá fora
Na noite quente.

Virei no vento...
Direi: acorda...
 

***



No jardim em penumbra


Na penumbra em que jaz o jardim silencioso
A tarde triste vai morrendo... desfalece...
Sobre a pedra de um banco um vulto doloroso
Vem sentar-se, isolado, e como que se esquece.

Deve ser um secreto, um delicado gozo
Permanecer assim, na hora em que a noite desce,
Anônimo, na paz do jardim silencioso,
Numa imobilidade extática de prece.

Em lugar tão propício à doçura das almas
Ele vem meditar muitas vezes, sozinho,
No mesmo banco, sob a carícia das palmas.

E uma só vez o vi chorar, um choro brando...
Fiquei a ouvir... Caíra a noite, de mansinho...
Uma voz de menina ao longe ia cantando.




LEILA KRÜGER (1982 - )

Nasceu em IjuÍ, noroeste do Rio Grande do Sul. Em 2011 foi classificada em quarto lugar no XXXIII Concurso Internacional Literário, nas categorias Conto e Poesia, tendo seus escritos publicados na coletânea Amanhã, Outro Dia, da AG Publicações. Também fui selecionada para a antologia Tempo de Tudo - Contos e para a Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos Volume 83, em 2011, pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Tem poesias e contos publicados em sites e revistas. 












FLOR DE FIM


Como saber?
            Se a tristeza é breve
            se a alegria é forte
            se a paz é leve.
            Se a fé rebrota
             no inverno gris.
            Se teus dedos
            na madrugada
            fazem meu fim.
            Como saber?
            Entender tua cor.
            Como saber?
            Se já não sou.
            Como não ser?
            Se nós somos flor...



***



LONGE


Mas se eu tiver que ser sozinha, serei inteira
serei plácida, como o lago que espera a chuva
como a chuva que busca a manhã.

E se eu tiver que ser escura, serei grandiloquente
se tácita, valente
se árida, compreensiva, ao menos
se ainda assim severa... então liberta.

E se me perder de tudo, e até do fim...
possivelmente eu serei nova
como o verão, no céu de janeiro
como janeiro, no céu de Paris!
Seja lá onde for Paris...          

Hoje, em qualquer lugar, longe daqui. Longe, longe...


***




ESPELHO


Tenho em mim toda a calma e toda a falta
tenho tuas feições delicadas
dormindo lânguidas em paredes cálidas
e tenho tua cor, tua sutil flor em rosa...
– um vazio que chamo apenas de amor.
     
Fiz-me escada louca pra mirar tua boca
e cair do alto da morada frouxa
que é tua louça, que é tua roupa
que é teu rosto suposto no espelho
                                   da insensatez
– não, não me quebres... eu sou teu resto! 





IDMAR BOAVENTURA (1977 - )

Poeta e professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no campus XX, em Brumado, publicou dois livros de poemas: O Desossar das Horas, 2004, e o A outra margem, 2008) e um ensaio acerca da poesia do baiano Roberval Pereyr: Dissonâncias diante do Espelho..., em 2011). Tenta, aos trancos e barrancos, alimentar um blog: http://idmarboaventura.blogspot.com.br  e, segundo ele, esmera-se, quando não está se divertindo no trabalho, em fazer nada com coisa alguma que se aproveite...








LEVITAÇÃO


Vou me despir de todo o peso.
Serei leve.
Não quero o sangue espesso dos dias
nem o vento das inglórias semeaduras.
Quero antes
o tom suave das auroras
e a breve brisa da tarde.
Ah, quero ser leve
como o verde da menina dos teus olhos,
leve como uma manhã de sol
que se esquece de passar.
Quero amanhecer
cercado de céu e nuvens.


II

Bebi das águas do Lethes,
e enfim adormeci.
Para acordar sem angústias,
liberto de todo o peso.
Para, enfim, poder ser leve.
Acordar com o chilreio dos pardais,
adormecer com as cigarras
e, no entremeio, levitar
como quem alcançou a graça do nada:
leve como a sombra de uma pluma,
como a brisa
que se esquece de passar. 


***



LÍQUIDO



Talvez teu encanto provenha
desse teu jeito de água:

da fluidez de teu corpo
que lembra a leveza das vagas,

de teu escapar-me tão líquido,
que em um segundo se detém,
e logo depois se espalha,

desse teu jeito de nuvem
fugindo de meu abraço.

Mas talvez nem seja isso:
diante de tua dureza,
eu é que me liquefaço.


***




SONETO DO AMOR VACILANTE


Perdoa o meu amor tão vacilante
que é sempre um esperar, uma agonia,
infinda madrugada, nunca dia,
que faz de eternidade um breve instante.

Perdoa, pelo menos, meu silêncio,
pois que ele é todo feito de esperas:
desejo que aguarda o banimento,
inverno se fazendo primavera.

E nesse perdoar tão sem limites,
na espera de um amor tão inconstante,
enxerga, ainda mais, minha vontade

de que esse meu amar tão sem juízo
esconda, no seu gesto ruminante,
a espera mais fiel de uma saudade.