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Arthlur Gonçalves de Salles nasceu e morreu em Salvador, capital da Bahia. Foi poeta,
tradutor e escritor brasileiro. Em 1905 forma-se pela Escola Normal da Bahia.
Em 1908 é nomeado bibliotecário da Escola Agrícola da Bahia, situada na vila de
São Francisco do Conde. Publica seus poemas em diversas revistas da Bahia. Por
essa época, participa dos serões, dos recitais de poesia na casa de seu tio
Martinho Gonçalves de Salles Brasil, ao lado de seu pai, Severiano, da poetisa
Amélia Rodrigues, dos Balthazar da Silveira, dos Mangabeira etc. A Revolução de
1930 fechou os Aprendizados e fez com
que o poeta caísse em disponibilidade não-remunerada. Em 1935, é nomeado para o
mesmo cargo de professor adjunto, para o Aprendizado de Quissamã, Sergipe. Enquanto
estava em disponibilidade, foi ensinar no Instituto Baiano de Ensino de seus
antigos condiscípulos Hugo e Giraldo Balthazar da Silveira. Leccionou
português, francês e história. Arthur de Salles foi Imortal da Academia Baiana
de Letras, ocupando ali a Cadeira de número 3, que ocupou até sua morte, em
1952. Aposentado não se divorciou da vida literária de sua província.
Participou ativamente do movimento Nova Cruzada, aproximou-se dos jovens
promotores de Arco&Flexa, frequentava
as reuniões da ALA (Ala das Letras e das Artes). Filiado à Associação
Brasileira de Escritores, era presidente da seção da Bahia, quando, em 1948, se
realizou em Salvador um congresso nacional promovido pela entidade. Foi um dos
fundadores da Academia de Letras da Bahia.
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PÚRPURAS
Na
púrpura do Verso o ouro do Sonho ardente,
Fio
a fio, teci. Era manhã! Radiava
Em
pleno azulo meu belo sol adolescente.
E
o meu Sonho, a essa luz, resplendia e cantava.
Como
a enrediça, a vida, indomada e ascendente,
Por
minha mocidade em mil voltas serpeava.
E
tudo, no esplendor de um mundo renascente,
Sonoro,
multicor, multímodo, vibrava.
Musa,
que não gemeu flébil, magoada e langue:
Vivaz,
tonto de luz, salta o primeiro verso,
Ao
primeiro rebate estuoso do meu sangue.
Ó
selvas tropicais! Ó sonoras luxúrias!
Mundo
excelso do Sonho, esvoaçando, disperso,
No
incontentado ardor dessas rimas purpúreas!
***
MORS
AMOR
Nesses
tremendos círculos da vida
Erras,
clamando, aflita e delirante.
Ao
céu levantas a alma soluçante,
De
preces e de súplicas ungida.
Dentro
do teu clamor exulcerante,
Sem
rumo e só, de dores combalida,
Vagas
por esses círculos, perdida,
E
giras nesse sorvedouro estuante.
Buscaste
o amor; e o mundo era um deserto!
Teu
coração, de lágrimas coberto,
Em
vão gritou por quem o acalentasse.
O
amor nos ermos corações morrera
—
Árvores augusta, em plena primavera,
Que
um sol maldito e bárbaro queimasse!
***
Grega
Recordo
as glórias imortais e as lendas
Da tua Pátria, ó bela peregrina...
Recordo Queronéia e Salamina,
Lanças, escudos e as guerreiras tendas.
Lembro Cassandra e as predições tremendas.
Passam, num sonho fúlgido, à retina,
Homero e as Musas, a legião divina,
Do Tempo, eternos, palmilhando as sendas.
Mas o sonho maior e mais radiante,
É essa visão remota e perturbante,
Esse plaino da Argólida deserta
De onde penso que vens, de mirto e louro
Coroado a fronte, e toda, toda do ouro
Do sepulcro dos Átridas coberta.
PÚRPURAS
Na
púrpura do Verso o ouro do Sonho ardente,
Fio
a fio, teci. Era manhã! Radiava
Em
pleno azulo meu belo sol adolescente.
E
o meu Sonho, a essa luz, resplendia e cantava.
Como
a enrediça, a vida, indomada e ascendente,
Por
minha mocidade em mil voltas serpeava.
E
tudo, no esplendor de um mundo renascente,
Sonoro,
multicor, multímodo, vibrava.
Musa,
que não gemeu flébil, magoada e langue:
Vivaz,
tonto de luz, salta o primeiro verso,
Ao
primeiro rebate estuoso do meu sangue.
Ó
selvas tropicais! Ó sonoras luxúrias!
Mundo
excelso do Sonho, esvoaçando, disperso,
No
incontentado ardor dessas rimas purpúreas!
***
MORS
AMOR
Nesses
tremendos círculos da vida
Erras,
clamando, aflita e delirante.
Ao
céu levantas a alma soluçante,
De
preces e de súplicas ungida.
Dentro
do teu clamor exulcerante,
Sem
rumo e só, de dores combalida,
Vagas
por esses círculos, perdida,
E
giras nesse sorvedouro estuante.
Buscaste
o amor; e o mundo era um deserto!
Teu
coração, de lágrimas coberto,
Em
vão gritou por quem o acalentasse.
O
amor nos ermos corações morrera
—
Árvores augusta, em plena primavera,
Que
um sol maldito e bárbaro queimasse!
***
Grega
Recordo
as glórias imortais e as lendas
Da tua Pátria, ó bela peregrina...
Recordo Queronéia e Salamina,
Lanças, escudos e as guerreiras tendas.
Lembro Cassandra e as predições tremendas.
Passam, num sonho fúlgido, à retina,
Homero e as Musas, a legião divina,
Do Tempo, eternos, palmilhando as sendas.
Mas o sonho maior e mais radiante,
É essa visão remota e perturbante,
Esse plaino da Argólida deserta
De onde penso que vens, de mirto e louro
Coroado a fronte, e toda, toda do ouro
Do sepulcro dos Átridas coberta.