Canto
da minha terra
Todos
cantam sua terra,
também
vou cantar a minha.
Minha
terra tem coqueiros,
coco
mole, babaçu,
piaçaba,
carnaúba,
macaxeira,
jerimum.
Minha
terra tem talentos,
Castro
Alves, Rui Barbosa,
meu
xará, um romancista,
Jesus
Cristo que é de lá.
Todos
cantam sua terra.
Minha
terra tem Bonfim,
cangerê,
urucubaca,
Iemanjá,
Oxolufã,
Pai-de-santo,
candomblé.
Minha
terra tem saveiros,
procissão
e romaria,
pescador
e jangadeiro,
lua
cheia sobre o mar.
Minha
terra tem jagunços,
tem
tocaias e caxixes,
tem
São Jorge cavaleiro,
e
outros santos de valor.
Minha
terra tem dendê,
mugunzá
e caruru,
tapioca,
acarajé,
mingau
de puba e beiju.
Todos
cantam sua terra,
também
eu cantei a minha.
***
***
Autobiografia
Meu
nome todo é Jorge Emílio Medauar
Filho
de imigrantes árabes
Tenho
ficha na polícia cidadão indesejável elemento
[agitador
E
amo gatos bichinhos miúdos sem importância
Nunca
matei passarinho (uma vez fui, a mão tremeu)
Amo
amizades construídas em bar esquina cabaré
O
rio da minha terra
O
mar onde pulo em mergulhos
Onde
vejo barcos gaivotas penso em piratas
[heróis da infância
Penso
em viagens conhecer tudo quanto é
[canto do mundo
Amo
até porque compreendo os que me magoam
Quando
nasci em Água Preta meu pai como
[qualquer pai
Se
alegrou deu dinheiro aos pobres
Farinha
e carne seca aos cegos de feira
Minha
mãe fez promessa prometeu meu nome a
[São Jorge meu protetor
Também
fui batizado crismado como cristão
Cresci
aprendi sofri amei
Amei
tanto que virei poeta para amar também
Esta
coisa que me espreme o coração
Isto
que me dá de noite de manhã a qualquer
[momento
Que
me põe na mesa me obriga a chorar
A
ver letras tremendo em minha frente
Gota
de lágrima escorrendo pelo rosto borrando
[a página
Por
hoje
-
Adeus
***
Soneto
Sabei,
sabei que fiz de antigos cedros
Barcos
que a infância pôs à flor das ondas:
Meu
pai, que é Medauar, teceu-me as velas
E
a filha dos Zaidans, que é minha mãe,
Pôs
amoras de mel no tombadilho.
Nesses
barcos navego, marinheiro
Fenício
do Zodíaco e dos trópicos
Vermelhos
de lamentos e canção
Hoje
tenho lagunas onde aporto,
Tranquilamente,
sob a lua branca,
O
coração de Tâmara madura.
Se
vos trago damascos e Kakláua
É
porque recebi dos velhos árabes
Um
lastro de doçura nesses barcos.