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Tasso da
Silveira
nasceu em Curitiba, capital do Paraná. Formou-se bacharel em Direito pela
Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, no Rio de Janeiro, em 1818, mesmo
ano em que publicou seu primeiro livro de poesia, Fio d'Água. No ano seguinte, fundou e tornou-se diretor das
revistas Os Novos, Árvore Nova, Terra do Sol, com
Álvaro Pinto, América Latina, com Andrade Muricy e Cadernos da Hora Presente, com Rui de Arruda.
Colaborou nos jornais O Momento, Rio-Jornal, A Manhã, e na Revista
Sul-Americana. Foi secretário dos jornais Diário da Tarde e O Estado
e redator do Diário da Manhã. Tasso
da Silveira fez parte da revista Festa,
na fase inicial do Modernismo, ao lado de Cecília Meireles, Murilo Mendes,
Andrade Muricy. Esse grupo divergia do nativismo exagerado de Mário de Andrade
e Oswald de Andrade e alimentava a chama neo-simbolista. Entre suas principais
obras estão: Fio d’água (1918), A alma heroica dos homens (1924), Alegorias do homem novo (1926), As imagens acesas (1928), O canto absoluto (1940), Cantos do campo de batalha (1945), Contemplação do eterno (1952), Puro canto (antologia, 1956), Regresso à origem (1960), Poemas de antes (1966).
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Transfusão
Olho-te
e olho-me... E, após, sobre nós ambos cismo...
Tua
alma, como pôde a minha alma prendê-la?
És
candura e inocência, e eu vou errando pela
noite
negra do mal, da imperfeição, do egoísmo...
És
pura e eu sou impuro. Entanto (o íntimo diz-mo)
nossa
mútua afeição nada pode contê-la...
–
Para o meu doido olhar és a atração da estrela.
–
Ao teu ingênuo olhar sou a atração do abismo...
E
havemos de fundir nossas almas, Querida.
E
iremos, até soar da vida o último dobre,
como
em dois corpos, vês? Uma alma bipartida...
Mas
traremos, também, ao fim dos nossos dias,
–
tu, um pouco do lodo imundo que me cobre,
–
eu, um pouco da luz excelsa que irradias...
***
PERFEIÇão
Doida
escalada!... O olhar nevoento e baço
vou
subindo a montanha... E, dia a dia,
mais
incerto e mais trêmulo é meu passo,
mais
a dúvida enorme me angustia...
Cada
degrau vencido é uma agonia.
Sonho...
mas para a altura ainda ergo o braço.
Sofro!
– agudo punhal, lâmina fria,
com
que eu mesmo, sorrindo, me trespasso...
Ah!
Terei de rolar esse declive
que
vim galgando, quase morto, exausto,
vendo
perdido o meu esforço em vão?
Ou
chegarei, à força que em mim vive,
lá
no alto, mas erguendo em holocausto,
roto
e a sangrar, meu próprio coração?...
***
Carne
a Andrade
Muricy
Para
purificar-me eu me faço o verdugo
de
mim mesmo, e me obrigo ao cilício da dor.
Luta
improfícua! Em vão minhas forças conjugo:
sou
vencido na liça... O instinto é o vencedor...
Debalde
eu me revolto e os ímpetos subjugo,
à
explosão do desejo em vão tento me opor.
Alma!
Tu sofrerás do corpo o eterno jugo,
curva-te
para sempre ao domínio opressor!
Carne,
que me tornaste um rastejante verme!
Ah!
Pudera fazer-te impassível e inerme:
–
brasa que se apagou, sombra, extinto clarão...
Carne,
que matarás o sonho que me exalta!
Negra
barreira a erguer-se, intransponível,
alta
no caminho lustral da minha Redenção!...