A CAVERNA
Última
sessão de cinema.
Numa
sala escura de edícula,
Como
serpente, uma película
No
chão desenrola o dilema:
O
enredo emenda novo esquema?
Seria
esta cena a partícula
De
outra metragem sem matrícula?
Quando
o término? Qual o tema?
Farol
vigiando da cabina,
Há
um projetor que rebobina
E
avança as sombras de uma história…
E
o espectador nessa caverna
Deseja
ver na vida externa
Ao
filme íntimo da memória.
***
DÍVIDA
O
Tempo, terrível credor,
virá
bater à nossa porta;
austero,
deve nos propor
o
saldo de uma conta morta.
Somam-se
idades, à medida
que
os anos devem diminuir.
Somos
inquilinos em vida,
e
a nossa casa há de ruir.
***
VINGANÇA
Vai
ébrio de ódio. Mas equilibra-se. Em ambas
as
mãos há um garrafão. No meio-fio tropeça
e
em trôpego bailado bate com a cabeça
numa
placa de trânsito. Ao pisar muambas
espalhadas
no chão, parece gingar sambas.
Não
há ninguém que o avise, ninguém que o impeça
do
próprio pé molhar, mijando-se sem pressa.
Prossegue.
O passo é duro, embora as pernas bambas.
Opera
uma manobra, oculto atrás dos postes.
Marchando
em plena rua, investe contra as hostes.
O
pensa fazer, tão intrépido e indômito,
contra
essa imensa grei? À turba, sem embargo,
avança
resoluto, estufa o ventre largo,
lançando
a todo mundo o nojo de seu vômito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário