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Egas
Moniz Barreto de Aragão, mais conhecido como Pethion de Villar, médico, professor universitário e poeta, nasceu
em Salvador no dia 4 de setembro de 1870, sendo seus pais Francisco Moniz de
Aragão e Ana Lacerda Moniz de Aragão. Em 1895, concluiu o curso de medicina na
Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual recebeu o grau de doutor, depois de
defender tese sobre Síntese da Medicina.
Praticou o parnasianismo e dirigiu a Revista do Grêmio Literário. Fez parte da Academia de Letras da Bahia, onde
ocupou a cadeira número 13 que tem como patrono Francisco Moniz Barreto. Portador
de cultura invejável, faleceu no mesmo solar onde nasceu, deixando quatro
filhos, todos poetas e conhecidos por seus respectivos pseudônimos. Produziu alentada
bibliografia sobre assuntos científicos, filosóficos e literários, mas foi
acima de tudo poeta. Em vida publicou apenas um folheto de 39 páginas sob o
título Suprema Epopeia. Quatro anos
depois de sua morte, a viúva Maria Elisa de Lacerda Valente Moniz de Aragão
publicou em Lisboa Poesias Escolhidas e em 1975, o Conselho Federal
de Cultura (MEC) publicou Poesia Completa.
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MARINHA
Desce
a Noite enrolada em brumas hibernais. . .
Trágica
solidão, vago instante sombrio,
em
que, tonto de medo, o olhar não sabe mais
onde
começa o mar e onde acaba o navio.
Nem
o arfar de uma vaga: o mar parece um rio
de
óleo; oxidado o céu de nuvens colossais,
num
zimbório de chumbo acaçapado e frio,
escondendo
no bojo a alma dos temporais.
Nem
das águas no espelho o reflexo de um astro...
Apenas
o farol, no vértice do mastro,
rubra
a pupila, a arder, dentro de uma garoa.
E
lá vai o navio, espectral, lento e lento,
como
um negro vampiro, enorme e sonolento,
pairando
sobre um caos de tênebras, à toa.
***
HARMONIA SUPREMA
Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Irrompa finalmente
Do meu lábio covarde, alto, numa explosão
Fatal, de uma só vez este segredo ardente<
Assim como um rugido, assim como um clarão!
Eu
te amo! Eu te amo! Eu te amo! Ó Verbo onipotente
Que se fez Carne! Ó doce e horrível confissão!
Asa que vem do Azul varrendo a Noite em frente,
Aleluia eternal, suprema Redenção!
Eu
te amo! Eu te amo! Eu te amo! Oh que aurora irradia
Desta frase ideal que anda a cantar, à toda...
Silêncio! Versos meus... parai vossa Harmonia!
Basta! A voz deste Amor que me enleva e me aterra!
Do meu Corpo à minha Alma, indômita, revoa
Como um raio de sol que prende o Céu à Terra.
***
S P L E E N
ao
Lelis Piedade.
Eu
não creio no Amor! toda essa fofa estética,
De hipérboles senis, de frases indiscretas
Que hoje até causa riso à gente mais dispéptica
E inda serve de capa à asneira dos poetas;
Toda
esta bimbalhada estólida de prantos,
Que transfigura a Musa em chafariz eterno
E faz de cada tipo. o tipo dos encantos,
Tornando o Metro a-zêdo à força de ser temo;
Tudo
isto, neste fim de séc'lo, em que cada alma
Tem por farol o Gozo e por Deus o Dinheiro,
E o judeu Rothschild o mundo inteiro espalma;
Tudo
isto nada vale e prova o que eu já disse,
Cheio de um cepticismo intenso e verdadeiro:
O Verso é um bibelô, o Amor uma tolice...