O
bambu
Exposto
ao dia, à noite, à beíra da lagoa,
Onde
se miram, rindo, as boninas do prado,
Vive
um velho bambu, velho, curso e delgado,
A
escutar a canção que o triste vento entoa ...
Jamais
os leves pés de um trovador alado,
Desses
que pela mata andam cantando à toa,
Pousara-lhe
num ramo! Apenas o povoa
Alta
noite, agourento, um corujão rajado ...
E
vive, — arcaico monge a gemer solitário,—
A
sua dor sem fim, o seu viver mortuário,
Tristonho
a refletir no fundo azul das águas ...
Como
bambu da mata, exposto ao sol e ao vento,
Do
deserto sem fim de meu padecimento,
Triste
nos olhos teus reflito as minhas mágoas!. ..
(Alexandrinos,
1912)
***
Hamlet
Não
sei que estranha dor meu peito dilacera,
Que
esquisito negror meu espírito ensombra!
Tenho
sorrisos de anjo e arreganhos de fera,
Sinto
chamas de inferno e frescuras de alfombra!
Sou
malvado e sou bom! Minh'alma ora é sincera,
Ora
de ser traidora ela própria se assombra!
Que
clamores de inverno e paz de primavera!...
Escarneço
da morte e temo a minha sombra!
Nervo
a nervo, a vibrar, misteriosa e vaga,
Anda-me
o corpo todo a nevrose de um tédio,
Que
dos pés à cabeça atrozmente me alaga ...
Onde
um recurso ao mal que me banha e transborda?
Minha
dor é sem fim! Eu só tenho um remédio:
O
suicídio - uma bala... um punhal... uma corda!...
***
SE QUERES SER FELIZ...
Se
queres ser feliz, afasta-te, querida!
Da
minha alma! E, a sorrir, nem mais
procure vê-la!
Uma
estrela — Que é luz, deve unir-se à vida
Não
à treva — o que sou. Mas à lua, a outra
estrela!
Tão
formosa e tão moça, afeita à brisa mansa
Das
manhãs de sorriso e tardes de ventura,
Não
calculas a dor do amar sem esperança;
Do
ratear, como um cego, a noite da amargura...
A
alma, que conheceste, alegre e calma, outrora
Como
um trecho de sol, embebido de canto,
Recordas
como vive, erma e calada, agora
Em
pedaço de abismo encharcado de pranto.
A
ti tudo sorri! Nem pensas no futuro
E
o pensar no futuro envenena o presente!
Se
és tão nova e tão bela, e o teu ser é tão puro
Há
de te ser a vida um sonho alvinitente!
A
minha alma, querida, é um sítio abandonado
Onde,
em antigo tempo, houve trabalho e festa:
Um
sitio claro e verde, harmônico e dourado
Como
um sonho de flora a uma canção de vesta...
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Só
o que vive a sofrer sabe o que é castigo!
Só
o que vive de amor sabe o que o amor nos diz.
Tu
me amas, talvez... mas atende ao que digo:
Afasta-te
de mim, se queres ser feliz!...
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