SOLUÇOS SÍSMICOS
Farto é o
fogo
dos
vulcões
julgados
extintos
soluço
sísmico
na
contração do parto
pende um
quadro
trêmulo
na parede
do útero
Sem a
distorção
da moldura
arde uma
tela
de Cícero
Matos:
deserto
a ser
florido
rio morto
a ser
aguado
Jacobina
não é
apenas um retrato
na parede
um berço
a ser
embalado.
***
O GRANDE ESPETÁCULO DA TERRA
Hoje não
vou à Broadway –
pois não
é que nunca vou à Broadway –
que
importa fogo ou neve em New
York ?
Vou ficar
para o grande espetáculo da terra
como o
circo de Maru
com a
rumbeira Margareth
e os clowns Chega-Chega
e Batatinha
no ritmo
inebriante de Tijuana Taxi
meu Deus,
que fim levou a rumbeira Margareth
delírio
da criançada de perdida infância
casou-se
e foi para Feira de Santana
véus –
muitos véus – iam-se dissolvendo um a um
agora
grinaldas, o buquê, girândolas de pétalas
uma tiara
de corações partidos
e aquela
calda toda
de branco
imagino-a
sob o altar da Catedral
da
sagrada Nossa Senhora de Sant’Anna
ao eterno
som de Tijuana Taxi
“Pã! Parampampã-pã-pã-pã!”
(apoteose
dos grotões de minha terra:
na
aurífera
na
agrícola
nessa
imensidão distante e tão próxima
como a
antiga cidade de Jacobina
sem o
arpejo, o canto, o desespero de Bob Silva
sem o
auto-faltante da Rádio Nacional
nem a
doce viola de Paulo da China
numa
esquina perdida da Rua Ana Nery
mas
cristalizada numa antiga cantiga)
Há um
momento em que os malabares
eternizam-se no ar
e o
trapezista projetava-se
para o
alto e precipitava-se
sobre um
assoalho de taipás
para o
delírio da meninada
sem infância
sem rede
sem
coração
e lá
estava o homem-borracha
estatelado
em linha reta
– e
a linha tênue –
Na linha
oblíqua do chão
“Pã!
Parampampã-pã-pã-pã!”
Têm-se
infância e memória?
A quem
importa a ruína do Empire State?
Que
importa a estrutura vítrea do Louvre
o
burburinho do Quartier Latin
as ruínas
gregas e as pirâmides no Cairo
o Coliseu
e o túmulo de Tutacamon?
Meu Deus,
o que importa
a privada
de ouro de um sultão em Omã
se o
levante do Oriente
é o que
há de mais moderno?
Que
importa aquele edifício em Dubai
ante o
singelo pedido da natureza –
subcutânea
tatuagem e a fina estampa da pele?
Deem-nos
infância e memória
e
ficaremos para o grande espetáculo da terra.
***
LIRIUM
quem
bem me
quer
não me
despe
ta
la
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