segunda-feira, 7 de abril de 2014

DONIZETE GALVÃO (1955 – 2014)




 
Nasceu em Borda da Mata, estado de Minas Gerais. Publicou Azul navalha (T.A. Queroz, Editor, 1988), As faces do rio (Água Viva Editores, 1991),  Do silêncio da pedra (Arte Pau-Brasil, 1996), A carne e o tempo ( Nankin Editorial, 1997), Ruminações (Nankin Editorial, 1999), Mundo mudo ( Nankin Editorial.2003). Também tem trabalhos publicados nos principais jornais e revistas do Brasil, entre eles Folha de S. Paulo, Poesia Sempre, Dimensão, Inimigo Rumor e Cult.
 
     






RESPOSTA


Na infância, o que se grava na carne permanece.
O sentimento de humilhação por se sentir
                                            torto
                                            fraco
                                            desastrado
                                            quatro-olhos.

Aprende-se a viver inacabado,
a esconder, constrangido, o corpo
nas penumbras.

Como querer que o homem velho,
com sua parca energia já gasta,
mude o registro consolidado?
Como querer que ande horas sob o sol
e faça exercícios vigorosos
como se fora um ginasta?

***



VIDA MINÚSCULA

para quem nasceu destinado
à terra
à enxada
às tarefas
às lidas com o gado
                             a descoberta da língua,
                             para além do uso ordinário,
                             e dos livros
traz um veneno
que o aparta dos seus

                             extravia-se
                             vive-se à margem
                             deseja sem saber o quê

tateia em um mundo
que sempre lhe será estranho

***




O ASFALTO, ENFIM

Se toda morte é descida,
a morte mais dolorida
é aquela com o corpo
varado de balas
                  debruçado
sobre o carrinho de construção
que desce as valas da favela.

Morte de cabeça para baixo
como deveria ter sido a vida
                                inteira
do moleque teimoso
que à força da bala
                        quis levantá-la do chão.

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