Breviário
di'versos
1.
quero
a palavra disforme
análoga
à forma das nuvens
prenúncio
de coisas tardias
vazio
sem nome -
buraco
negro a engolir estrelas.
quero
o verso vazio
poesia
de coisa nenhuma
silêncio
em seu contrário
vazio
sem nome -
Sputntk
a vagar no espaço.
quero
o regresso à terra
o
abraço do solo escuro
anúncio
cie coisas inúteis
vazio
sem nome
Morte
a engolir a vida.
2.
pardals
a piar na pia
o
fogo a consumir os ninhos
o
sino exaurido na torre
anunciando
o luto
sobras
de farelo no turvo deserto
o
homem alheio
escravo
do nada
cravado
na areia e fome
o
homem sem nome
derradeiro
estado de coisa
3.
figuras
fictícias prefiguradas
fina
estampa
letras
garrafais a esculpir desejos
a
propaganda é sem alma
(o
negócio)
onde
há espaço invadimos
o
único preço é a fuga
talvez
a ilusão de um quase
permanente
4.
decresço
na crença
o
corpo é um trapo combalido
o
bolso é um rasgo de vinténs
a
alma
desgraça
de improviso
no
abraço
em
gritos de amém
a
sombra dá descanso e maldição
meu
ópio
é
a precisão do paraíso
estou
ébrio
em
promessas o delírio
estou
sóbrio
em
profanação
***
Tristezza
Sobram
palavras quando há pouco a dizer
Talvez
a loucura coubesse na roupa que deixei no cabide
Ou
nem houvesse razão para sair de mim
O
mundo multicolorido desfocado pela lente da Insanidade
O
tempo, escusado de mim, vadia...
Vadia
como os últimos boêmios
Que
saem pelas ruas, exaustos de viver
Vadiam
nas ruas da Penha,
Vila
Madalena ou qualquer canto deste mundo
Em
um quarto carcomido...
Sim,
sou um destes que tentam atravessar o país
Num
piscar de olhos
Talvez
uma necessidade de fugir de mim
Ou
de me encontrar em qualquer esquina
Onde
os loucos se encontram.
Eis
que chego à porta da Casa Verde
Recebendo
a chave da Cidade das Rosas
Como
honra ao mérito de outrem,
Sou
assim, usurpador do trono,
Tenho
a coroa e a coragem,
Sob
o braço o chapéu... nas mãos?
Delírios
feitos de confetes e serpentinas
À
espera de outros carnavais
Onde
os corpos se encontrem
Suados,
purpurinados, débeis.
Sim,
espero a euforia que vem do claustro,
A
lobotomia, o choque elétrico, a surra, o coice...
Espero
o veneno destilado nos cálices sagrados
O
corpo sangrando sobre a pedra.
Espero
o que não é para se esperar,
O
desespero, a sofreguidão,
E,
espero sempre na mais tola calmaria
Aquilo
que não há de vir.
***
UM ABORTO
No desespero de ver a vida passar
rabisquei palavras vazias
sobre estas pautas nuas...
E nesta desventura
fui gerar mais uma vida,
entrelaçado nas fadigas
e em tuas pernas,
fizemos a mais bela poesia...
Ao fim da noite
e destas loucuras,
mergulhamos
no mesmo vazio...
E a solidão
que nos invadiu
fez-me rasgar esta página
UM ABORTO
No desespero de ver a vida passar
rabisquei palavras vazias
sobre estas pautas nuas...
E nesta desventura
fui gerar mais uma vida,
entrelaçado nas fadigas
e em tuas pernas,
fizemos a mais bela poesia...
Ao fim da noite
e destas loucuras,
mergulhamos
no mesmo vazio...
E a solidão
que nos invadiu
fez-me rasgar esta página
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