segunda-feira, 14 de julho de 2014

ZILA MAMEDE (1928-1985)


Nasceu na Paraíba, mas está mais ligada às letras e à cultura do Rio Grande do Norte, onde viveu a maior parte de sua vida e onde o mar a levou para sempre. O poema Elegia, incluído na presente seleção, é como um prenúncio de seu destino.  Formada em biblioteconomia, tendo exercido cargos de importância no Instituto Nacional do Livro (em Brasília) e como diretora da Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Seus principais livros: Rosa de Pedra (1953), Salinas (1958), O Arado (1959), Exercício da Palavra (1975), A Herança (1984) e Navegos (Poesia reunida 1953-1978).  Poeta sutil, elegante, de um lirismo contido e introvertido, de solidão e paixão mas também, não raras vezes, com um fundo social relativo às temáticas do sertão nordestino. Drummond tinha-a entre suas predileções.





BILHAR 
       a Ludi e Oswaldo Lamartine


Na medida exata
em que a noite corre
não fico: me ausento
como quem morre

Entre lousa e livro
- único disfarce
que concedo ao tempo =
mudo-me a face

que, no entanto, vária,
inábil, reprimida,
perde-se no encontro
tátil da vida

Bola sete em rude
pano de bilhar
marco meu sem rumo
jogo-de-amar.


***




A PONTE

Salto esculpido
sobre o vão
do espaço
em chão
de pedra e de aço
onde não
permaneço
                   - passo.


***




Rua (TRAIRI)


Nos cubos desse sal que me encarcera
(Pedras, silêncios, picaretas, luas,
anoitecidos braços na paisagem)
a duna antiga faz-se pavimento.

Meu chão se muda em novos alicerces,
sob as pedreiras rasgam-se meus passos;
 e a velha grama (pasto de lirismos)
afoga-se nos sulcos das enxadas,

nas ânsias do caminho vertical.
Ao sono das areias abandonam-
se nesta rua vívidos fantasmas

De seus rios meninos que descalços
apascentavam lamas e enxurradas.
Meu chão de agora: a rua está calçada.








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