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Jorge de Lima, sobre óleo de Portinari, 1937 (coleção particular)
Destinado a pequenas notas de
livros didáticos criminosos, pondo-o como um poeta menor e sem interesse, e que
chegam às mãos de milhões de alunos de todo o Brasil, limitando-o apenas a uma Negra Fulô insípida, Jorge Mateus
de Lima (1893-1953) é, ao lado de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira,
considerado por muitos, um dos poetas mais representativos de todo o Modernismo
Brasileiro.
Mas, ao contrário dos outros
dois, sua poesia é, sem sombras de dúvidas, a mais intelectual e a mais
profundamente formal de todo o século XX, igualando-se apenas a Fernando
Pessoa, em Portugal, e ao Bruno Tolentino, aqui, no Brasil.
Todavia, passados mais de 60
anos de sua morte, nem um grande poeta foi tão boicotado, tanto na influência,
como em sua importância, quanto este alagoano de União, e a crítica literária
brasileira dos últimos 50 anos, medíocre e despreparada – com raríssimas
exceções, é claro – tem sido, segundo César Leal (um dos que fazem parte das
exceções), em seu maravilhoso Os
cavaleiros de Júpiter, a principal responsável por tal desprezo, pois muito
mais interessados com os processos econômico-sociais do País, deslocam todo o
seu interesse àqueles autores que, imbuídos de semelhante pensamento, têm sua
participação mais intensa nesta “tomada de posição”, cujo resultado não poderia
ser outro, senão um barbarismo estilístico parasitário que só o pensamento
marxista poderia construir, o qual, infelizmente, tem sido a face mais
conhecida não só de nossa crítica literária, mas de todo o “pensamento
intelectual” brasileiro até os dias de hoje.
Jorge de Lima, maior do que
tudo isso, produz uma desdobrável visão da realidade, que é uma função
essencial de todo grande poeta, realizando o milagre da fusão temporal, embora
sinta a necessidade sempre urgente de transcrevê-lo, no dizer de Murilo Mendes,
produzindo uma poesia do Espírito, no sentido mais autêntico do termo. Por
estas razões, também, que não é de estranhar que os nossos críticos comunistas
e os ditos poetas que nunca fizeram um soneto (não pelo facto de não gostarem,
mas pela incapacidade de fazê-lo) sejam incapazes de compreender uma poesia
elegante e de tão grande alcance intelectual como a de Jorge de Lima.
Sabendo que o Cristianismo,
principalmente o Cristianismo Católico Europeu, está na essência mesma da
Cultura Brasileira e que a Bíblia
nada mais é do que o principal Mito Fundador da Cultura Ocidental,
Jorge Mateus de Lima é para Literatura Brasileira, um pilar fundamental e, por
isso mesmo, indispensável, na compreensão não só de a nossa cultura, mas do
muito de tudo aquilo que a antecede, pois o bardo alagoano nada mais é que uma
síntese de toda a Literatura Universal, além de ser um dos poetas brasileiros
que, logicamente, melhor compreendeu Dante Alighieri e Luis de Camões, como a
própria História do Cristianismo.
Quem duvidar, por favor, leia a
obra de Jorge de Lima, mas vou logo avisando, é preciso ser um iniciado em
muitas dessas coisas, para não acabar no time de ignorantes, que há mais de
meio século, compõe nossa Crítica Literária.
Em seu mês de aniversário, o
blog A POESIA DO BRASIL homenageia o poeta alagoano nos 100 anos da publicação
de seu primeiro livro os XIV Alexandrinos.
Um abraço a todos... e muita
poesia em suas vidas.
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O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
Lá
vem o acendedor de lampiões da rua!
Este
mesmo que vem infatigavelmente,
parodiar
o sol e associar-se à lua
quando
a sombra da noite enegrece o poente!
Um,
dois, três lampiões, acende e continua
outros
mais a acender imperturbavelmente,
a
medida que a noite aos poucos se acentua
e
a palidez da lua apenas se pressente.
Triste
ironia atroz que o senso humano irrita:
ele
que doira a noite e ilumina a cidade,
talvez
não tenha luz na choupana em que habita,
Tanta
gente também nos outros Insinua
crenças,
religiões, amor, felicidade,
como
este acendedor de lampiões da rua!
***
DOMÍNIO RÉGIO
Investiguei a Grécia em Platão e em Homero,
vi Sócrates beber a taça de cicuta...
Depois passei a Roma e analisei de Nero
na boca de Petrônio essa face corrupta.
Conheci Santo Anselmo e São Tomás, Lutero,
estudei de Voltaire a inteligência arguta
e finalmente andei como se fosse Asvero
pela Ciência e a História em requintada luta...
Mas a Arte é que me impõe o seu domínio régio
e é por isso que adoro a mão de Tintoretto
e a sublime palheta e o pincel de Correggio...
E é por isso que eu amo o verso alexandrino
e burilo, Mulher, este pobre soneto
inspirado a pensar em teu perfil divino.
***
CIPÓS
Vegetação
bravia. A floresta é do norte;
coqueiros,
bambuais, jequitibás frondosos
e
presa à selva inteira os cipós portentosos
oprimida
e sofrendo o mesmo abraço forte.
Pequenos
vegetais condenados à morte
que
dantes eram bons e de galhos seivosos,
agora
têm alguns, raquíticos, nodosos
gravetos
outros já, recurvados sem porte.
Sublime
foi então este arvoredo esguio:
a
pletora da selva ia outros matando
como
o forte aniquila quem é doentio.
Então
ele fugiu à compressão funesta,
estirou-se,
alongou-se e em cipós se tornando
ei-lo
feito opressor esmagando a floresta.
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