A VIDA É SEMPRE SÚBITA
a Roseana Murray
A
vida é sempre súbita,
como folha a cair na rua,
pássaro recém-nascido a despencar do ninho.
A vida é sempre susto,
choque elétrico a cortar a carne,
farpa a estilhaçar a pele.
Nada nos protege desse frio.
Nada nos ampara dessa nudez.
A vida é sempre agora,
atropelamento em esquinas vazias,
rosto a refletir o nada nos espelhos.
como folha a cair na rua,
pássaro recém-nascido a despencar do ninho.
A vida é sempre susto,
choque elétrico a cortar a carne,
farpa a estilhaçar a pele.
Nada nos protege desse frio.
Nada nos ampara dessa nudez.
A vida é sempre agora,
atropelamento em esquinas vazias,
rosto a refletir o nada nos espelhos.
***
A menina morta
a
Cornélio Pena
De
sua fotografia
a
menina morta
me
sorri.
Quem
lhe pousou
entre
os cabelos
aquela
flor
de
assombro?
Quem
lhe maquiou
as
fazes
com
aquela cor
de
espanto?
A
menina morta
me
sorri
do
fundo
de
um poço
da
lonjura
da
eternidade.
Nas
suas pálpebras
de
sonho
na
sua testa
de
sombra
reluz
o mistério
da
morte
a
invisível tez
do
silêncio.
A
menina morta
canta
com
a boca
amordaçada.
Ela
brinca de ciranda
com
a sombra das árvores
ela
pula amarelinha
com
a solidão das pedras.
A
menina morta
só
sabe abraçar
o
calor do mármore
ela
só sabe conversar
com
o eco dos granitos.
Ninguém
nota
na
parede
seu
rosto de névoa
sua
expressão de gelo.
Há
teias de esquecimento
em
seus ombros.
Há
poeira de memória
em
seus cílios.
De
sua fotografia
a
menina morta
me
sorri.
Com
a calma
dos
séculos
ela
aguarda
a
chegada
de
todos
os
silêncios.
***
HÁ DIAS EM QUE OS PÁSSAROS TARDAM A REGRESSAR
a Geri Aparecida Biotto Bucioli
Há dias em que os pássaros tardam a regressar,
manhãs em que o inverno pousa, em nossa nudez,
as horas da esquecida infância. Nesses momentos,
o crepúsculo nunca se despede de nossos olhos,
as folhas não afagam o vento: somos, inteiros,
uma doce melancolia a gestar as primaveras. Há dias
em que os pássaros são a promessa de um milagre.
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