sexta-feira, 10 de outubro de 2014

FAUSTO CARDOSO (1964-1906)

Fausto de Aguiar Cardoso foi um advogado, poeta, filósofo e político brasileiro. Nascido em Aracaju, estado de Sergipe, formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, escreveu para jornais em Recife e integrou o Movimento de Renovação do Pensamento Nacional que aderiu ao movimento republicano, sendo eleito deputado federal em duas legislaturas e fundou o Partido Progressista. Fausto foi assassinado no Palácio do Governo, em Aracaju, durante o movimento de 1906. Mais tarde, seus filhos vingaram a sua morte, assassinando no Rio de Janeiro o Monsenhor Olímpio Campos, no episódio conhecido como "A Tragédia de Sergipe".  A maioria de seus poemas está reunida nos volumes de Esparsos e Inéditos.






O POETA

Quando surges sonhando e tua lira canta,
Inveja abrindo vai, como esfaimado corvo,
As asas negras pelo abobadado e torvo
Horizonte, em que o Deus da rima se levanta!...

Reatas a obra a imortal da caravana santa
Dos teus mortos irmãos, vencendo o mesmo estorvo,
Tragando o mesmo fel, haurindo o mesmo sorvo
Do veneno letal, que aos cobardes quebranta!

Ornas a Terra e a Terra, ingrata, te apedreja,
Porque o Infinito tens na mente e os pões no verso,
A sustentar, cantando, intérmina peleja.

É um louco! — brada o mundo em tua luz imerso,
Mas segue o raio astral, que pelo Azul dardeja
Doirando as almas como o sol doira o Universo!

***


A AMOR

Eu sou o Amor, o Deus que a terra inteira gaba!
Vivo enlaçado em sóis pelo universo inteiro afora,
dos ódios expurgando a venenosa baba,
que os mundos desagrega, espalha e desarvora.

O tempo tudo avilta; a morte tudo acaba;
e o louro sol jamais a murcha flor colora;
novos mundos, porém do mundo que desaba
faço surgir e salto em rutilante aurora!

Causo estrelas no céu e corações na terra;
da treva arranco luz; do nada arranco vida,
e crivo de vulcões o gelo que a alma encerra!

Mudam-te o peito em mar meus lúbricos desejos,
e tua mente ondeia e fulge colorida,
como raios de luz em vergéis de beijos!

***


TAÇAS

Deslumbrado cheguei chorando à terra, um dia;
e, do lauto festim da vida, achei-me à mesa;
sempre libei cantando a taça da Alegria
embebedou-me sempre o vinho da Tristeza.

Esplêndidas visões trouxeram-me à porfia as
ânforas do Amor; e de volúpia acesa,
minha boca de boca em boca um mosto hauria,
que de tédio me encheu por toda a Natureza.

Dá-me a velhice a taça; eu das paixões prescindo;
e, ébrio, ascendo a espiral de um sonho delicioso,
no vinho da Saudade achando um gosto infindo...

Parece-me o passado um rio luminoso,
onde vogo a rever, pelas margens florindo,
a dor, que ao longe tem as seduções do gozo!






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