SONETO ELEMENTAR
Nos recantos tranqüilos encontrava
a poesia. Sobre mim e o rio
debruçavam-se as árvores. Os pássaros
eram ecos nos seus primeiros cantos.
Ruas de chuvas leves, nunca o inverno.
Com o menino brincar vinham as tardes
e vinha o céu. Adeus, nuvens cinzentas
onde vagam os monstros meus da infância.
Já não vibram as músicas ingênuas
na planície escutadas. A poesia
difícil se tornou e vive em sombras.
Em mim que tanto amei hoje às palavras
movem-se para ásperas mensagens
e vão morrer na incompreensão dos gestos.
***
Toada goiana
Correr chapadas e serras
cobertas de casimira.
As noites que lá se foram
voltam dançando, e a catira
que se escuta sempre longe
é doce - ainda que fira.
O vento dá na roseira,
mas meu bem, ninguém me tira.
Quem ama, reclama e chora,
canta e suspira.
As muitas matas, as muitas
solidões ... que amor as planta?
Quero bem a uma menina
que vê-la é ver uma santa.
Deixei-a, vim correr mundo.
Agora tenho a garganta
atravessada do espinho
desta saudade que é tanta.
Quem ama, chora e suspira,
reclama e canta.
Poeira em giros vermelhos,
e o tempo já foi de lama.
Sete cravos, sete rosas -
é pouco para quem ama.
Sete cartas de lembrança -
e a ingrata, que não me chama!
Faço fé que ainda me lembra,
pois sou goiano de fama.
Quem ama, suspira e canta,
chora e reclama.
O vento vem, dá na vida.
Mas a terra - é em mim que mora.
Passarinho no coqueiro,
do meu bem fala-me agora:
se está morto, se está vivo,
se casou, se foi embora.
Vem a seca ... Vêm as águas ...
E a resposta já demora.
Quem ama, canta e reclama,
suspira e chora.
Correr chapadas e serras
cobertas de casimira.
As noites que lá se foram
voltam dançando, e a catira
que se escuta sempre longe
é doce - ainda que fira.
O vento dá na roseira,
mas meu bem, ninguém me tira.
Quem ama, reclama e chora,
canta e suspira.
As muitas matas, as muitas
solidões ... que amor as planta?
Quero bem a uma menina
que vê-la é ver uma santa.
Deixei-a, vim correr mundo.
Agora tenho a garganta
atravessada do espinho
desta saudade que é tanta.
Quem ama, chora e suspira,
reclama e canta.
Poeira em giros vermelhos,
e o tempo já foi de lama.
Sete cravos, sete rosas -
é pouco para quem ama.
Sete cartas de lembrança -
e a ingrata, que não me chama!
Faço fé que ainda me lembra,
pois sou goiano de fama.
Quem ama, suspira e canta,
chora e reclama.
O vento vem, dá na vida.
Mas a terra - é em mim que mora.
Passarinho no coqueiro,
do meu bem fala-me agora:
se está morto, se está vivo,
se casou, se foi embora.
Vem a seca ... Vêm as águas ...
E a resposta já demora.
Quem ama, canta e reclama,
suspira e chora.
***
REENCONTRO
Nada mais esperar, se o sentimento
que um dia escravo e deus de mim fizera,
é hoje o doce e amargo no alimento
a alimentar quem sou com quem eu era
e nunca o fui, senão em pensamento.
Nada mais esperar? — Mas clama a espera no fundo
do que sonho, quero e invento
do que sonho, quero e invento
com o que resiste, em mim, ao anjo e à fera.
Oh, não mais esperar!— E o desespero
seria em minha voz, como em meus braços,
a espera mais total, do prisioneiro
que, encerrado em si mesmo, sente o espaço ...
Que inteiro está o amor no derradeiro
pedaço deste amor que despedaço.
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