segunda-feira, 12 de março de 2012

ILDÁSIO TAVARES (1940-2010)

Ildásio Marques Tavares é poeta, ficcionista, dramaturgo e jornalista. Segundo nota de Assis Brasil, em A poesia baiana do século XX, pertence à geração Revista da Bahia, juntamente com Cyro de Mattos, Fernando Batinga de Mendonça, Marcos Santarrita, Alberto Silva. Estes, e mais José Carlos Capinam, Ruy Espinheira Filho, Adelmo Oliveira, José de Oliveira Falcón, Carlos Falck, Maria da Conceição Paranhos entre outros "formam um panorama fecundo e variado" a partir da década de 60. Possui vários livros publicados, como Imago, Ditado, O canto do homem cotidiano, Tapete do tempo, Poemas seletos, Livro de salmos, IX Sonetos da Inconfidência, Lídia de Oxum, O amor é um pássaro selvagem, O domador de mulheres, A arte de traduzir... entre outros. É ganhador, entre tantos prêmios, do Leonard Ross Klein, de tradução; do Afrânio Peixoto, de ensaio; do Fernando Chinaglia, de poesia; e do prêmio nacional do centenário de Jorge de Lima. É bacharel em Direito e licenciado em Letras pela Universidade Federal da Bahia; mestre pela Southem Illinois University; doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; pós-doutor pela Universidade de Lisboa. Seu trabalho como jornalista compreende participação em vários periódicos, entre os quais, Diário de Notícias, Jornal da Cidade, A Tarde e Tribuna da Bahia. Membro praticante do candomblé, foi consagrado Ogan Omi L’arê, na casa de Oxum, e Obá Arê, na casa de Xangô e no Axé Opô Afonjá. Desde 1989 é cidadão da cidade de Salvador. Tendo seu nome ligado ao teatro, à música e à ficção, ligou-o também à poesia e à história ao publicar, em edição limitada a dez exemplares, seus NOVE SONETOS DA INCONFIDÊNCIA. Quem já visitou os verbetes de Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa perceberá como Ildásio se vale da familiaridade com a dramaturgia para construir os papéis dos principais personagens da conjuração, dando-lhes caricata caracterização sob a forma de monólogos sonetados, empreitada da qual se desincumbe com brilho, bravos e pedidos de bis.



Restos


Há um resto de noite pela rua
Que se dissolve em bruma e madrugada.

Há um resto de tédio inevitável
Que se evola na tênue antemanhã.

Há um resto de sonho em cada passo
Que antes de ser se foi, já não existe.

Há um resto de ontem nas calçadas
Que foi dia de festa e fantasia.

Há um resto de mim em toda a parte
Que nunca pude ser inteiramente.


***


Ode ao silêncio


Vesti o silêncio com teu rosto.
 
Na passagem das horas,
fiquei menos só;
fiquei mais triste.
 
Somente ao construir
a tua ausência
é que pude entender
de que consiste.
 
Não me importa o que tu
és ou não és,
mas o que tanto foste
e que persiste,
ornamentado o silencio.
 
As palavras te recriam
do fundo irretocável do passado
como uma silhueta móvel.



***

O SILVÉRIO

Meu coração é um metal sonante
e se eu tivesse trinta corações
eu venderia todos. De ilusões
jamais viveu quem é comerciante.

Patrão sempre há de haver. A cada instante
o mundo está trocando seus patrões.
Mas o ouro é quem seduz as multidões
e das nações é o doce governante.

Quero viver a vida. De que adianta
mexer a terra e revolver a messe
se a merda a mesma merda ficaria?

Só o dinheiro a todo o mundo encanta.
Se trinta corações hoje eu tivesse,
eu juro, todos trinta eu venderia.

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