segunda-feira, 19 de agosto de 2013

DOMINGOS CARVALHO DA SILVA (1919-2004)



 
Domingos Carvalho da Silva nasceu em portugal, na aldeia de Leiroz, 15 quilômetros ao sul da cidade do Porto, mas radicou-se no Brasil desde 1924, instalando-se em São Paulo. Passando a ser considerado paulista. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo (1937), naturalizando-se nesse mesmo ano como cidadão brasileiro. Advogado, funcionário federal e jornalista, foi também poeta, contista e ensaísta e lecionou Teoria da Literatura na Universidade de Brasília. Eis alguns dos seus livros de versos: Rosa Extinta (1945), que o consagrou como o mais importante poeta paulista da nova geração; Espada e Flâmula (1947); Poesia Oculta (1949); Girassol de Outono (1952); A Fênix refratária e outros poemas (1959). O principal mérito da sua poesia reside na versatilidade de formas, temas e tons. Importa destacar que, em 1946, incumbido pessoalmente pelo próprio Pablo Neruda, publicou a tradução de 20 Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada. Fez parte da Geração de 45 (grupo que ele assim batizou da poesia brasileira). Foi fundador da Revista Brasileira de Poesia e recebeu os prêmios Olavo Bilac, em 1950, oferecido pela Academia Brasileira de Letras, e o Jabuti, na categoria poesia, com o livro de poemas intitulado Vida Prática, em 1977.







LIRISMO

Ela subiu à montanha
com uma rosa na mão.

Contemplou o mundo à distância
com uma rosa na mão.

Depois se atirou no abismo
com uma rosa na mão.

E foi sepultada ontem
com uma rosa na mão.



***




SÍNTESE


Indiferente
à virgem que morre exatamente
agora
ou à tuberculose que viceja, uma pedra qualquer
no fundo do mar
repousa.

Besouros mecânicos riscam com suas asas
a lua.

Indiferente
ao bombardeio, à epidemia, à fome,
uma árvore na praça
floresce.

Taumaturgos estão pregando a regeneração inútil.

Indiferente,
o homem criado à semelhança de Deus
contempla.

Duram poucos momentos os naufrágios.
Breve e pouco aflita é a dor humana.
Os incêndios devoram sem sadismo.

Indiferente à prece e à libidinagem,
ao crime e ao sacrifício,
a madrugada
passa.



***



A UMA OPERÁRIA JOVEM


Como a árvore que pode
dar apenas seu fruto,
floresces. E sobre a terra
amplias o horizonte de tua sombra.

Na fábrica as engrenagens
multiplicam o movimento
e as polias giram como vento
em remoinho.

Na fábrica os fatos
repetem-se como as estações,
as estrelas iguais de cada noite,
o pão fresco de todas as manhãs.

Teu sangue circula como a abelha
na órbita da rosa
e, como a água dos estanques, há de voltar
à fonte.

Na fábrica
os espelhos sonham com teu riso.


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