Domingos Carvalho da Silva nasceu em portugal,
na aldeia de Leiroz, 15 quilômetros ao sul da cidade do Porto, mas radicou-se
no Brasil desde 1924,
instalando-se em São Paulo. Passando a ser considerado paulista.
Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de São
Paulo (1937), naturalizando-se nesse mesmo ano como cidadão brasileiro.
Advogado, funcionário federal e jornalista, foi também poeta, contista e
ensaísta e lecionou Teoria da Literatura na Universidade de Brasília. Eis
alguns dos seus livros de versos: Rosa
Extinta (1945), que o consagrou como o mais importante poeta paulista da
nova geração; Espada e Flâmula
(1947); Poesia Oculta (1949); Girassol de Outono (1952); A Fênix refratária e outros poemas
(1959). O principal mérito da sua poesia reside na versatilidade de formas,
temas e tons. Importa destacar que, em 1946, incumbido pessoalmente pelo
próprio Pablo Neruda, publicou a tradução de 20 Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada. Fez parte da Geração de 45 (grupo que ele assim batizou da poesia brasileira). Foi
fundador da Revista Brasileira de Poesia e recebeu os prêmios Olavo Bilac, em 1950, oferecido pela Academia Brasileira de Letras, e o Jabuti,
na categoria poesia,
com o livro de poemas intitulado Vida
Prática, em 1977.
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LIRISMO
Ela
subiu à montanha
com
uma rosa na mão.
Contemplou
o mundo à distância
com
uma rosa na mão.
Depois
se atirou no abismo
com
uma rosa na mão.
E
foi sepultada ontem
com
uma rosa na mão.
***
SÍNTESE
Indiferente
à
virgem que morre exatamente
agora
ou
à tuberculose que viceja, uma pedra qualquer
no
fundo do mar
repousa.
Besouros
mecânicos riscam com suas asas
a
lua.
Indiferente
ao
bombardeio, à epidemia, à fome,
uma
árvore na praça
floresce.
Taumaturgos
estão pregando a regeneração inútil.
Indiferente,
o
homem criado à semelhança de Deus
contempla.
Duram
poucos momentos os naufrágios.
Breve
e pouco aflita é a dor humana.
Os
incêndios devoram sem sadismo.
Indiferente
à prece e à libidinagem,
ao
crime e ao sacrifício,
a
madrugada
passa.
***
A UMA OPERÁRIA JOVEM
Como
a árvore que pode
dar
apenas seu fruto,
floresces.
E sobre a terra
amplias
o horizonte de tua sombra.
Na
fábrica as engrenagens
multiplicam
o movimento
e
as polias giram como vento
em
remoinho.
Na
fábrica os fatos
repetem-se
como as estações,
as
estrelas iguais de cada noite,
o
pão fresco de todas as manhãs.
Teu
sangue circula como a abelha
na
órbita da rosa
e,
como a água dos estanques, há de voltar
à
fonte.
Na
fábrica
os
espelhos sonham com teu riso.
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