Nasceu no Rio de Janeiro é poetisa, psicanalista
e doutora em Literatura Brasileira. Publicou em poesia, entre outros, Leblon, Voz e chão (2004), e o ensaio Leminsky, guerreiro da linguagem (2003).
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A
bota de inverno
Ela
está em negro.
No
trem, a mulher esconde-e
sob
as pregas
de
sombras azuis.
o
frio respira
mãos
de unhas cuidadas,
a
pedra verde fascina a outra mulher.
Elas
se olham rapidamente,
o
trem-metrô-em-trilhos
carrega
torres de Babel:
Línguas
e olhares.
O
corpo em crise
(fevereiro
de 2005)
não
percebe o poema
que
começa.
Não me mexo,
Sinto
os pés inchando
devagar.
A pele parece ausente,
as
unhas dos dedos
pedem
espaço. Penso:
ao
chegar em casa,
me
deterei
-
ao lavar os pés –
m
a s s a g e a n d o o s d e d o s
(despidos
de dóceis meias).
Algumas
mulheres trazem consigo
os
pés herança
na
trama da linha que escorrega
sem
derrame ou cicatriz.
***
Indianas
1
Cinco
mulheres em véus e sandálias de plataforma alta.
Verão.
2
Eu
não estava em Bombaim mas seus tornozelos tinham a tonalidade das pétalas de
rosa, um pouco violeta. Corriam entre os carros assustadas.
Vislumbrei
a calça jeans embaixo das dobras vermelhas da seda. Talvez, em função da
maquiagem, da sensualidade do andar, eu tenha parado para olhá-las:
ritmo,
perfume, cor...
Por
um milagres elas surgiram. Foi como pude senti-las naquele longo boulevard
Raspail.
3
Um
pintor teria dito:
parem!
Degas
pintaria a idade de seus pés ou de suas mãos? Matisse, os volumes e as formas
dos
braços?
Abro
um parêntese.
Fui
ao dicionário. Procurei, sem saber bem onde estava indo, a palavra rubra.
Precisava
do vocábulo para justificar meu poema que atraía sementes.
4
A
“coisa” colorida. O vestido de uma Mulher pede para ser usado no plural,
v
e s t i d o s d e M u l h e r e s.
Há
mais coisas a dizer.
Narinas
abertas respiram o ar quase púrpuro da luz.
Essas
mulheres
na
tela escritural,
não
longe
uma
das outras,
convivem
com o final do dia.
5
Sobrancelhas
arqueadas
à
lápis noir
turquesa
– entre – os olhos
não
menos que outras cores
sobre
a pele brilhante.
Um
piscar de movimento brusco
é
uma possibilidade
no
novo mundo
do
texto,
e
distingue o jamais visto.
Enfim
me rendo!
***
RUBRO
vermelho muito
RUBRO
vermelho muito
vivo
da
cor
de
sangue.
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