DOR
Há de ser uma estrada de amarguras
a tua vida. E andá-la-ás sozinho,
vendo sempre fugir o que procuras
disse-me um dia um pálido advinho.
No entanto, sempre hás de cantar venturas
que jamais encontraste... O teu caminho,
dirás que é cheio de alegrias puras,
de horas boas, de beijos, de carinho..."
E assim tem sido... Escondo os meus lamentos:
É meu destino suportar sorrindo
as desventuras e os padecimentos.
E no mundo hei de andar, neste desgosto,
a mentir ao meu íntimo, cobrindo
os sinais destas lágrimas no rosto!
***
LENDO-TE
“As roseiras aqui já estão florindo...”
Mandas dizer... “As híspidas e pretas
Rochas da estrada já se estão cobrindo
De musgo verde... Há muitas borboletas...”
E eu fico a pensar que agora é o lindo
Mês das rosas esplêndidas e inquietas
Asas: mês em que a serra anda sorrindo,
E em que todos os pássaros são poetas.
Vejo tudo: a água canta entre os cafeerios.
Vejo o crespo crisântemo e a açucena
Estrelando a verdura dos canteiros.
Penso, então, que em tudo isto os olhos
pousas...
E começo a chorar... Olha: tem pena,
não me escrevas falando nessas cousas!...
***
SÍMBOLO
Meu amor! meu amor! voltaste ainda
A povoar os meus sonhos! Que forte elo
É este afeto, este céu de altura infinda,
Que eu de rimas e lágrimas estrelo?!
Sonho. É aí onde estás: A tarde finda...
Perto — a angústia; distante — tudo é belo:
Muito ao longe — a ala serra muito linda;
Junto a nós — o sertão muito amarelo...
“Olha (disseste), é um símbolo terrível:
A nossos pés, com o seu tormento, os ermos;
E olha a serra: é a Ventura inacessível...”
E acordei, a sentir estas saudades...
Que fizemos aos céus, para sofrermos
Tão longa série de infelicidades?...
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