PREFÁCIO
1
o mito não de desvenda.
mas há outros véus ou metros — metros em si próprios.
véus são o claro e o obscuro.
2
o misterioso, véus sobre véus.
porém o mistério
(eu não canto)
penso
— véu original.
3
ó cidade lógica, horizontal.
lógico é o seu contorno,
aquela linha sobre o contorno, cartão-postal,
a linha da qual as formigas fogem.
4
metrificar, auto-pensamento.
e o drama
(ou epopéia? ou comédia?)
— a ânsia de uma geometria
porém da terra.
5
poesia, inacreditável simetria.
os futuros
(sua vegetal percepção)
sabem.
6
demasiado tudo.
humanas coisas, seu falar
demasiado.
demasiado tudo.
humanas coisas, seu falar
demasiado.
30
do planalto central
eu medito o centro
dentro e fora
porque as mãos independem,
e eu
não sou apenas
o que faço.
eu medito o centro
dentro e fora
porque as mãos independem,
e eu
não sou apenas
o que faço.
***
GALDINO OU A MORTE POR DIFERENTE
GALDINO OU A MORTE POR DIFERENTE
I
O
final precedido pelo descuido:
“lesão
corporal seguida de morte”
Outro
final: a morte por cálculo:
no
corpo estirado na pedra
os
litros de fogo e álcool
Quem
folheia o catálogo
da
morte, e escolhe?
A
morte por lapso, indiferença
a
dele, a mais violenta
quando
o corpo ao calor se encolhe
II
Os
termos são:
1
— “O meio cruel”: a cama industrializada
com
acabamento em chama
2
— “O motivo torpe”: o cinema
de
bairro da agonia
3
— “A defesa impossível”:
na
fuga sem pernas corre a lava
Queimado
por esporte
inteiro
morreu Galdino
tríplice
morte
III
Pataxó
eu também
sem
bordunas, flechas
e
outras mágicas
martelo
as flautas
do
réquiem:
ora
igual, ora impossível
como
reconhecer um homem
se
só o ouvimos ao longe?
se
só o vemos remoto, longínquo
como
reconhecer um homem?
pelas
vestes que protegem o corpo?
pelo
corpo sem mais, em pele, queimado?
pelos
gritos como palavras?
Um
homem, como ele é por perto?
frente
a si mesmo, cara a cara?
como
reconhecer um homem, sua laia?
Indistinto
é o homem?
Somos
todos o tanto?
Ou
nem tanto, ou só enquanto
o
olhar fotografa e esquadrinha?
IV
À
míngua, ou por excesso
ora
igual e por isso distinto
ora
distinto e então desigual
O
jaez
faz
a
diferença:
um
homem não está pra se reconhecer
mas
quem à dessemelhança
se
reconhece
***
DEPOIS DE DRUMMOND
DEPOIS DE DRUMMOND
Ontem:
“mercadorias espreitam-me”
assim solenemente
Mas
para ser sincero era recíproco
—
ele também as espreitava
talvez
mais jocosamente
ao
infinito
Hoje
deram o bote
já
não há margem para espreitar
tudo
é tediosamente excitante
A
alma-corpo da mercadoria
clone
sem máculas ou defeitos, o homem
enfim
superior
colagem
de mil pedaços
geneticamente
selecionados
de
inúmeros cadáveres
de
onde se retiram os brilhantes
os
catarros, ódio e outras imperfeições
Sem
olhos, as coisas se espreitam
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