sábado, 18 de abril de 2015

EUCLIDES DA CUNHA (1966-1909)

Engenheiro, militar, físico, naturalista, jornalista, geólogo, geógrafo, botânico, zoólogo, hidrógrafo, historiador, sociólogo, professor, filósofo, poeta, romancista e ensaísta, Euclides da Cunha nasceu em Cantagalo, no Rio de Janeiro. Filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudóxia Alves Moreira da Cunha. Órfão de mãe desde os 3 anos, passa a viver em casas de parentes em Teresópolis, São Fidélis e Rio de Janeiro. Em1883 ingressa no Colégio Aquino, onde foi aluno de Benjamin Constant, que muito influenciou a sua formação introduzindo-lhe à filosofia positivista. Em 1885, ingressa na Escola Politécnica, e no ano seguinte, na Escola Militar da Praia Vermelha, onde novamente encontra Benjamin Constant como professor. Contagiado pelo ardor republicano dos cadetes e de Benjamin Constant, professor da Escola Militar, durante uma revista às tropas atirou sua espada aos pés do ministro da Guerra Tomás Coelho. A liderança da Escola tentou atribuir o ato à "fadiga por excesso de estudo", mas Euclides negou-se a aceitar esse veredito e reiterou suas convicções republicanas. Por esse ato de rebeldia, foi julgado pelo Conselho de Disciplina. Em 1888, desligou-se do Exército. Participou ativamente da propaganda republicana no jornal A Província de S. Paulo. Proclamada a República, foi reintegrado ao Exército recebendo promoção. Ingressou na Escola Superior de Guerra e conseguiu tornar-se primeiro-tenente e bacharel em Matemáticas, Ciências físicas e naturais. Casou-se com Ana Emília Ribeiro, filha do major Sólon Ribeiro, um dos líderes da proclamação da República. Em 1891, deixou a Escola de Guerra e foi designado coadjuvante de ensino na Escola Militar. Em 1893, praticou na Estrada de Ferro Central do Brasil. Durante a fase inicial da Guerra de Canudos, em 1897, Euclides escreveu dois artigos intitulados A nossa Vendeia que lhe valeram um convite d'O Estado de S. Paulo para presenciar o final do conflito como correspondente de guerra. Isso porque ele considerava, como muitos republicanos à época, que o movimento de Antônio Conselheiro tinha a pretensão de restaurar a monarquia e era apoiado por monarquistas residentes no país e no exterior. Em Canudos, Euclides adota um jaguncinho chamado Ludgero, a quem se refere em sua Caderneta de Campo. Fraco e doente, o menino é levado para São Paulo, onde Euclides entrega-o a seu amigo, o educador Gabriel Prestes. O menino é rebatizado de Ludgero Prestes. Euclides deixou Canudos quatro dias antes do fim da guerra, não chegando a presenciar o desenlace. Mas conseguiu reunir material para, durante cinco anos, elaborar Os Sertões: campanha de Canudos (1902). Os Sertões foi escrito "nos raros intervalos de folga de uma carreira fatigante", visto que Euclides se encontrava em São José do Rio Pardo liderando a construção de uma ponte metálica. O livro trata da campanha de Canudos (1897), no nordeste da Bahia. Nesta obra, ele rompe por completo com suas ideias anteriores e pré-concebidas, segundo as quais o movimento de Canudos seria uma tentativa de restauração da Monarquia, comandada à distância pelos monarquistas. Percebe que se trata de uma sociedade completamente diferente da litorânea. De certa forma, ele descobre o verdadeiro interior do Brasil, que mostrou ser muito diferente da representação usual que dele se tinha. Euclides se tornou internacionalmente famoso com a publicação desta obra-prima que lhe valeu vagas para a Academia Brasileira de Letras e para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Divide-se em três partes: A terraO homem e A luta. Nelas Euclides analisa, respectivamente, as características geológicas, botânicas, zoológicas e hidrográficas da região, a vida, os costumes e a religiosidade sertaneja e, enfim, narra os fatos ocorridos nas quatro expedições enviadas ao arraial liderado por Antônio Conselheiro. Em agosto de 1904, Euclides foi nomeado chefe da comissão mista brasileiro-peruana de reconhecimento do Alto Purus, com o objetivo de cooperar para a demarcação de limites entre o Brasil e o Peru. Esta experiência resultou em sua obra póstuma À Margem da História, onde denunciou a exploração dos seringueiros na floresta. Euclides partiu de Manaus para as nascentes do Purus, chegando adoentado em agosto de 1905. Prosseguindo os estudos de limites, escreveu o ensaio Peru versus Bolívia, publicado em 1907. Escreveu, também durante esta viagem, o texto Judas-Ahsverus, considerado um dos textos mais filosófica e poeticamente aprofundados de sua autoria. Após retornar da Amazônia, Euclides proferiu a conferência Castro Alves e seu tempo, prefaciou os livros Inferno verde de Alberto Rangel e Poemas e canções de Vicente de Carvalho. Visando a uma vida mais estável, o que se mostrava impossível na carreira de engenheiro, Euclides prestou concurso para assumir a cadeira de Lógica do Colégio Pedro II. O filósofo Farias Brito foi o primeiro colocado, mas a lei previa que o presidente da república escolheria o catedrático entre os dois primeiros. Graças à intercessão de amigos, Euclides foi nomeado. Após a morte de Euclides, Farias acabaria ocupando a cátedra em questão. A esposa de Euclides, conhecida como Anna de Assis, veio a tornar-se amante de um jovem cadete 17 anos mais novo do que ela chamado Dilermando de Assis. Ainda casada com Euclides, teve dois filhos de Dilermando. Um deles morreu ainda bebê. O outro filho era chamado por Euclides de "a espiga de milho no meio do cafezal", por ser o único louro numa família de morenos. Aparentemente, Euclides aceitou como seu esse menino louro. A traição de Anna desencadeou uma tragédia em 1909, ao que Euclides entrou armado na casa de Dilermando dizendo-se disposto a matar ou morrer. Dilermando reagiu e matou Euclides, mas foi absolvido pela justiça militar ao ser julgado. Entretanto, até hoje o episódio permanece em discussão. Dilermando mais tarde casou-se com Anna. O casamento durou 15 anos. O corpo de Euclides foi velado na ABL. O médico e escritor Afrânio Peixoto, que assinou o atestado de óbito, mais tarde ocuparia sua cadeira na Academia.
















Robespierre


Alma inquebrável – bravo sonhador
de um fim brilhante, de um poder ingente.
De seu cérebro audaz – a luz ardente
é que[?] gerava a treva do Terror...

Embuçada num lívido fulgor
su’alma colossal – cruel – potente
rompe as idades, lúgubre – tremente –
cheia de glórias, maldições e dor!

Há muito já que ela – soberba ardida
afogou-se – cruenta e destemida –
num dilúvio de luz – Noventa e três...

Há muito já que emudeceu na história
mas, ainda hoje a sua atroz memória
é o pesadelo mais cruel dos reis!...


***


Danton

Parece-me que o vejo – iluminado –
erguendo delirante a grande fronte –
de um povo inteiro o fúlgido horizonte
cheio de luz, de idéias constelado...

De seu crânio – vulcão – a rubra lava
foi que gerou essa sublime aurora –
noventa e três e a levantou sonora
na fronte audaz da populaça brava...

Olhando para a história – um séc’lo é a lente
que mostra-me o seu crânio resplandente
do passado através o véu profundo...

Há muito que tombou – mas inquebrável
de sua voz o eco formidável
estruge ainda na razão do mundo!...


***



Marat


Foi a alma cruel das barricadas...
Misto de luz e lama... se ele ria
As púrpuras gelavam-se e rangia
Mais de um trono se dava gargalhadas...

Fanático da luz... porém seguia
Do crime as torvas, lívidas pisadas –
Armava à noite aos corações ciladas –
Batia o despotismo à luz do dia...

No seu cér’bro tremendo negrejavam
Os planos mais cruéis e cintilavam
As idéias mais bravas e brilhantes.

Há muito que um punhal gelou-lhe o seio...
Passou... deixou na história um rastro cheio

De lágrimas e luzes ofuscantes...

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