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Engenheiro, militar, físico, naturalista, jornalista, geólogo, geógrafo, botânico, zoólogo, hidrógrafo, historiador, sociólogo,
professor, filósofo, poeta, romancista e ensaísta, Euclides
da Cunha nasceu em Cantagalo, no Rio de Janeiro. Filho de Manuel Rodrigues da
Cunha Pimenta e Eudóxia Alves Moreira da Cunha. Órfão de mãe desde os 3 anos,
passa a viver em casas de parentes em Teresópolis, São Fidélis e Rio
de Janeiro. Em1883 ingressa no Colégio Aquino, onde foi aluno de Benjamin
Constant, que muito influenciou a sua formação introduzindo-lhe à filosofia positivista.
Em 1885, ingressa na Escola Politécnica, e no ano seguinte, na Escola
Militar da Praia Vermelha, onde novamente encontra Benjamin Constant como
professor. Contagiado pelo ardor republicano dos cadetes e de Benjamin
Constant, professor da Escola Militar, durante uma revista às tropas atirou sua
espada aos pés do ministro da Guerra Tomás Coelho. A liderança da Escola
tentou atribuir o ato à "fadiga por excesso de estudo", mas Euclides
negou-se a aceitar esse veredito e reiterou suas convicções republicanas. Por
esse ato de rebeldia, foi julgado pelo Conselho de Disciplina. Em 1888,
desligou-se do Exército. Participou ativamente da propaganda republicana no
jornal A Província de S. Paulo. Proclamada a República,
foi reintegrado ao Exército recebendo promoção. Ingressou na Escola
Superior de Guerra e conseguiu tornar-se primeiro-tenente e bacharel em Matemáticas, Ciências
físicas e naturais. Casou-se com Ana Emília Ribeiro, filha do
major Sólon Ribeiro, um dos líderes da proclamação da República. Em 1891,
deixou a Escola de Guerra e foi designado coadjuvante de ensino na Escola
Militar. Em 1893, praticou na Estrada de Ferro Central do Brasil. Durante
a fase inicial da Guerra de Canudos, em 1897, Euclides escreveu dois
artigos intitulados A nossa Vendeia que
lhe valeram um convite d'O Estado de S.
Paulo para presenciar o final do conflito como correspondente de
guerra. Isso porque ele considerava, como muitos republicanos à época, que o
movimento de Antônio Conselheiro tinha a pretensão de restaurar a monarquia e
era apoiado por monarquistas residentes no país e no exterior. Em Canudos,
Euclides adota um jaguncinho chamado Ludgero, a quem se refere em sua Caderneta
de Campo. Fraco e doente, o menino é levado para São Paulo, onde Euclides
entrega-o a seu amigo, o educador Gabriel Prestes. O menino é rebatizado de Ludgero
Prestes. Euclides deixou Canudos quatro dias antes do fim da guerra, não
chegando a presenciar o desenlace. Mas conseguiu reunir material para, durante
cinco anos, elaborar Os Sertões:
campanha de Canudos (1902). Os
Sertões foi escrito "nos
raros intervalos de folga de uma carreira fatigante", visto que Euclides
se encontrava em São José do Rio Pardo liderando a construção de uma
ponte metálica. O livro trata da campanha de Canudos (1897), no nordeste da Bahia.
Nesta obra, ele rompe por completo com suas ideias anteriores e pré-concebidas,
segundo as quais o movimento de Canudos seria uma tentativa de restauração da Monarquia,
comandada à distância pelos monarquistas. Percebe que se trata de uma sociedade
completamente diferente da litorânea. De certa forma, ele descobre o verdadeiro
interior do Brasil, que mostrou ser muito diferente da representação usual que
dele se tinha. Euclides se tornou internacionalmente famoso com a publicação
desta obra-prima que lhe valeu vagas para a Academia Brasileira de Letras
e para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Divide-se em três
partes: A terra, O homem e A luta. Nelas Euclides analisa, respectivamente, as características geológicas, botânicas, zoológicas e hidrográficas da
região, a vida, os costumes e a religiosidade sertaneja e, enfim, narra os
fatos ocorridos nas quatro expedições enviadas ao arraial liderado
por Antônio Conselheiro. Em agosto de 1904, Euclides foi nomeado chefe da
comissão mista brasileiro-peruana de reconhecimento do Alto
Purus, com o objetivo de cooperar para a demarcação de limites entre o Brasil e
o Peru. Esta experiência resultou em sua obra póstuma À Margem da História, onde denunciou a exploração dos seringueiros na
floresta. Euclides partiu de Manaus para as nascentes do Purus,
chegando adoentado em agosto de 1905. Prosseguindo os estudos de limites,
escreveu o ensaio Peru versus
Bolívia, publicado em 1907. Escreveu, também durante esta viagem, o texto Judas-Ahsverus, considerado um dos
textos mais filosófica e poeticamente aprofundados de sua autoria. Após
retornar da Amazônia, Euclides proferiu a conferência Castro Alves e seu
tempo, prefaciou os livros Inferno
verde de Alberto Rangel e Poemas e canções de Vicente de Carvalho. Visando a uma
vida mais estável, o que se mostrava impossível na carreira de engenheiro,
Euclides prestou concurso para assumir a cadeira de Lógica do Colégio
Pedro II. O filósofo Farias Brito foi o primeiro colocado, mas a lei
previa que o presidente da república escolheria o catedrático entre os dois
primeiros. Graças à intercessão de amigos, Euclides foi nomeado. Após a morte
de Euclides, Farias acabaria ocupando a cátedra em questão. A esposa de
Euclides, conhecida como Anna de Assis, veio a tornar-se amante de um
jovem cadete 17 anos mais novo do que ela chamado Dilermando de Assis.
Ainda casada com Euclides, teve dois filhos de Dilermando. Um deles morreu
ainda bebê. O outro filho era chamado por Euclides de "a espiga de milho
no meio do cafezal", por ser o único louro numa família de morenos.
Aparentemente, Euclides aceitou como seu esse menino louro. A traição de Anna
desencadeou uma tragédia em 1909, ao que Euclides entrou armado na casa de
Dilermando dizendo-se disposto a matar ou morrer. Dilermando reagiu e matou
Euclides, mas foi absolvido pela justiça militar ao ser julgado. Entretanto,
até hoje o episódio permanece em discussão. Dilermando mais tarde casou-se com
Anna. O casamento durou 15 anos. O corpo de Euclides foi velado na ABL. O
médico e escritor Afrânio Peixoto, que assinou o atestado de óbito, mais
tarde ocuparia sua cadeira na Academia.
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Robespierre
Alma
inquebrável – bravo sonhador
de
um fim brilhante, de um poder ingente.
De
seu cérebro audaz – a luz ardente
é
que[?] gerava a treva do Terror...
Embuçada
num lívido fulgor
su’alma
colossal – cruel – potente
rompe
as idades, lúgubre – tremente –
cheia
de glórias, maldições e dor!
Há
muito já que ela – soberba ardida
afogou-se
– cruenta e destemida –
num
dilúvio de luz – Noventa e três...
Há
muito já que emudeceu na história
mas,
ainda hoje a sua atroz memória
é
o pesadelo mais cruel dos reis!...
***
Danton
Parece-me
que o vejo – iluminado –
erguendo
delirante a grande fronte –
de
um povo inteiro o fúlgido horizonte
cheio
de luz, de idéias constelado...
De
seu crânio – vulcão – a rubra lava
foi
que gerou essa sublime aurora –
noventa
e três e a levantou sonora
na
fronte audaz da populaça brava...
Olhando
para a história – um séc’lo é a lente
que
mostra-me o seu crânio resplandente
do
passado através o véu profundo...
Há
muito que tombou – mas inquebrável
de
sua voz o eco formidável
estruge
ainda na razão do mundo!...
***
Marat
Foi
a alma cruel das barricadas...
Misto
de luz e lama... se ele ria
As
púrpuras gelavam-se e rangia
Mais
de um trono se dava gargalhadas...
Fanático
da luz... porém seguia
Do
crime as torvas, lívidas pisadas –
Armava
à noite aos corações ciladas –
Batia
o despotismo à luz do dia...
No
seu cér’bro tremendo negrejavam
Os
planos mais cruéis e cintilavam
As
idéias mais bravas e brilhantes.
Há
muito que um punhal gelou-lhe o seio...
Passou...
deixou na história um rastro cheio
De
lágrimas e luzes ofuscantes...
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