sábado, 18 de abril de 2015

RENATA PALLOTTINI (1931 - )


Renata Monachesi Pallottini é poetisa, romancista, contista, autora de literatura infantil e juvenil, dramaturga, tradutora, ensaísta, roteirista e professora. Estuda Direito na Universidade de São Paulo - USP e filosofia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, formando-se, respectivamente, em 1951 e 1953. Ainda em 1951 começa a trabalhar como revisora na Tipografia Pallottini, de sua família, onde, no ano seguinte, quase manualmente, imprime seu primeiro livro de poemas, Acalanto. Ingressa no curso de artes cênicas da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo - EAD/USP. Forma-se em 1964 e dá início à carreira de docente, tradutora e estudiosa de teatro e televisão. Faz sua estréia na prosa de ficção com o livro de contos Mate é a Cor da Viuvez, de 1974, e dez anos depois lança seu primeiro trabalho para o público infantil, Tita, a Poeta. Em 1991, viaja a Cuba como professora visitante da Escuela Internacional de Cine y Television. Entre muitas de suas outras obras, destacam-se: Monólogo Vivo; Chocolate Amargo; Esse vinho vadio e A menina que queria ser Anja...











EM OBRAS DE MISTÉRIO

Entreguei minha infância em inversões de ócio.
(Eu disse: em inversões de ócio).
 A tristeza imensa e muda das paixões infantis!
Sequer cresci.
         Que grande diferença! Minha mão direita
mais de uma oitava.
         Hoje o piano é um rastro sob o pó.

Mas não diremos saudade o que é apenas melancolia
da tarde, sob o azul da tarde (o fim da tarde...)

Bebendo vitamina e não absinto,
sentindo um vago rumor longínquo e não o fim de tudo
(minuto degolado ao gume de um ponteiro).



***


FINAL


Eu te perdi como uma coisa irremediável.
Na luminosa e grave tarde eu te perdi.
Eras o único ser. E agora és sombra,
enquanto as longas ruas se incorporam
ao que do sonho resta.

Eras cilício e rosa,
mas nunca foste verdade.

Olha: o sol colhe retas pelo espaço,
meus dedos se projetam e estendem lâminas
onde se ferem meus pensamentos.

Perdi-te, e Deus não me reencontrou.
Quem sou não sabe de si mesmo, e assim prossigo,
pois te perdi e nada mais importa.

Lembra-te: mais um dia. O tempo cai
como folhas de aço, e uma, e outra...
Entre uma e outra a Hora te roubou
ao meu tempo interior.
                            Perdi-te
e fico, e nada me concedes,
nem coração, nem mesmo alguma vida...

Tu chegas pelo trem de nunca-e-meia
e eu sempre de partida,
de partida!



***




LAMENTAÇÃO DOS FILHOS


Do infinito nascemos
para um termo preciso.
De infindas, as penas,
de vago, o aviso.

Nados mornos, frágeis,
de entre dois gemidos.
Quando a morte, a eterna?
Quando o Conhecido?

Que isto já nos cansa,
a nós, os malformados,
desde a distante infância
frutos destinados.

Somos os que a vida
fez limite amargo.
De infindas, só as penas,
de vago, o aviso vago.

Nenhum comentário:

Postar um comentário