EM OBRAS DE MISTÉRIO
Entreguei
minha infância em inversões de ócio.
(Eu
disse: em inversões de ócio).
A
tristeza imensa e muda das paixões infantis!
Sequer
cresci.
Que grande diferença! Minha mão direita
mais
de uma oitava.
Hoje o piano é um rastro sob o pó.
Mas
não diremos saudade o que é apenas melancolia
da
tarde, sob o azul da tarde (o fim da tarde...)
Bebendo
vitamina e não absinto,
sentindo
um vago rumor longínquo e não o fim de tudo
(minuto
degolado ao gume de um ponteiro).
***
FINAL
FINAL
Eu
te perdi como uma coisa irremediável.
Na
luminosa e grave tarde eu te perdi.
Eras
o único ser. E agora és sombra,
enquanto
as longas ruas se incorporam
ao
que do sonho resta.
Eras
cilício e rosa,
mas
nunca foste verdade.
Olha:
o sol colhe retas pelo espaço,
meus
dedos se projetam e estendem lâminas
onde
se ferem meus pensamentos.
Perdi-te,
e Deus não me reencontrou.
Quem
sou não sabe de si mesmo, e assim prossigo,
pois
te perdi e nada mais importa.
Lembra-te:
mais um dia. O tempo cai
como
folhas de aço, e uma, e outra...
Entre
uma e outra a Hora te roubou
ao
meu tempo interior.
Perdi-te
e
fico, e nada me concedes,
nem
coração, nem mesmo alguma vida...
Tu chegas pelo trem de nunca-e-meia
e eu sempre de partida,
de partida!
Tu chegas pelo trem de nunca-e-meia
e eu sempre de partida,
de partida!
***
LAMENTAÇÃO DOS FILHOS
LAMENTAÇÃO DOS FILHOS
Do
infinito nascemos
para
um termo preciso.
De
infindas, as penas,
de
vago, o aviso.
Nados
mornos, frágeis,
de
entre dois gemidos.
Quando
a morte, a eterna?
Quando
o Conhecido?
Que
isto já nos cansa,
a
nós, os malformados,
desde
a distante infância
frutos
destinados.
Somos
os que a vida
fez
limite amargo.
De
infindas, só as penas,
de
vago, o aviso vago.
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