Wladimir Saldanha nasceu em
1977, em Salvador. Estreou com As culpas do poema (Scortecci, 2012),
livro distinguido com o X Prêmio
Literário Asabeça para a Região Nordeste, categoria poesia. Esse primeiro
título seria incorporado ao volume Culpe
o vento (7Letras, 2014). Lançou ainda Lume
Cardume Chama (7Letras, 2014) − obra selecionada para publicação pela
Fundação Cultural da Bahia. Teve poemas publicados nas revistas Ângulos e Iararana e no extinto Suplemento Cultural do jornal A Tarde. Participou das antologias
portuguesas Poetas na surrealidade em Estremoz (2007) e DiVersos –
Poesia e Tradução (2008). Recebeu menção honrosa do Prêmio SESC de
Literatura 2011-2012, categoria livro de contos. Possui formação jurídica, área
em que trabalha, sendo também mestre e doutor em Letras pela UFBA. Seu terceiro
livro de poemas, Cacau inventado, tem
lançamento previsto para o primeiro semestre de 2015, pela Editora Mondrongo,
de Ilhéus. Wladimir Saldanha também escreve crítica literária, tendo colaborado
com os jornais Rascunho e A Tarde, e desenvolve projetos de
tradução. Uma amostra do seu trabalho pode ser acessada no blog Quinze para as Doze: http://quinzedoze.blogspot.com.br/
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ICTIOMANCIA
Não
venham me dizer que o peixe que veio dentro
do
outro
é
“como se fosse” o que não pesquei.
Não
venham me dizer que o peixe deglutido
pelo
maior
e
que se revelou em meio a vísceras, foi o meu.
Se
voltei para casa, mãos abanando, voltei sem peixe.
Se
voltei
com
um olho torto para o do colega, do tio ou pai,
voltei
sem peixe − sem peixe e vesgo. Não venham
na
pedra da pia
me
oferecer a cria escarlate, que não foi gerada
pelo
ventre: nem digerida. Desse, que veio dentro
do
outro
não
quero o louro, ramo de louro, feito de coentro.
(De
Lume Cardume Chama. Rio de Janeiro: 7Letras, 2014.)
***
***
SÓ HÁ VERÃO NA MINHA
RÚSSIA
Se
guardei a sombra de meu pai,
colei-a
no passo de um qualquer,
a
quem sigo, sim, por onde vai
calcando
essa relíquia sem fé.
Mas
a sombra de meu pai, puída,
de
repente se descola desse alguém
e
ei-la que se faz também
órfã
de quem tem pai na vida.
E
cato a sombra, para o oportuno
uso
ao sol, que me encandeia,
com
ser sozinho, no diuturno
suplício
dessa vã careta-meia
que
quer sorrir, mas se obumbra
no
meio-dia que palmilho.
Catar
do pai a sombra, o filho,
e
entesourar sua penumbra
para
grudá-la a um par qualquer
de
sapatos, de tênis, de saltos
altos
− pois pode ser mulher
o
pai sem pé nos meus retratos
e
cuja sombra dou à súcia
dos
que passam, sem jamais pedir...
Só
há verão na minha Rússia.
Inventa
um vento, Wladimir!
(De
Culpe o vento; Rio de Janeiro:
7Letras, 214.)
***
***
ADONIAS DE VOLTA –
SONETO XII
Neste
elevado, avisto os cacaueiros
subindo
longe a Serra Temerosa,
e
a ilha que é o charco, pelo avesso;
e
a falta, na paisagem, de uma rosa
que
há mais de mês me trouxe o que não quero,
embora
eu antevisse o aguaceiro:
de
chuva – o que precisa a Temerosa;
de
choro – o que dissolve rosto e Rosa.
A
ilha pelo avesso que era o charco
semelha
agora já não ser a ilha,
pois
se desdobra em água e terra; e barco
deixa
de ser, ao longe, uma novilha.
Sem
Rosa, o destemor parece parco:
desaba
um cacaueiro pela trilha.
(Da
série Adonias de volta, IN Cacau inventado. Ilhéus: Mondrongo,
2015.)
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