dívida com o mar
quando o mar
devolver seus mortos sem sepulcro
estarei na praia
a esperar meus amigos
abraçarei seus ossos mareados
que lavarei com cuidado e zelo
e lhes darei o devido enterro
cantarei canções de ninar cadáveres e esqueletos
e lembrarei mais tarde
ao som de tambor
ao redor de uma grande fogueira
do dia em que fiquei para trás esperando
pois que eu tenho uma dívida com o mar
assim como ele me deve
por isso não consigo mais andar sobre a s águas
nem posso ter pedras dentro da cabeça
ao modo dos peixes
nem dormir agarrado a remos
no fundo de barcos de longo calado
penso nas marcas dos pés sobre a areia
e no dia que sai da casa de meus pais
para não morrer no mar
sei que lá estão meus companheiros
em paciente espera do dia
que o mar nos devolva todos a vida
***
tátil e cego
enquanto corro
os dedos em tuas costas elétricas
minhas narinas
devoram tua pele e pelos
naquilo que são fogo
e cada contorno volátil
é abrigo e assento para meus olhos
tátil e cego é o amor
nos abismos florestais
ou ralas pradarias
pois tudo é triangulo e ravina
posso lamber teu cheiro esta noite
e nas outras e outras
e as gotas
da chuva de pentes para cabelos
e pedestais e pedrarias
estar em ti
é tudo que posso e quero.
***
VERMELHA
a tarde cai
a tarde cai
abrupta
e vermelha
nos subterrâneos
e nos subúrbios
em seus muros
necromantes desajeitados
geram um mundo deformado
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