ALTIVEZ
Há quem escolha a vida, e de que mortea vida morra, e onde e quando quase;
há quem não tenha boa nem má fase
porque não liga: aceita a sua sorte.
Se a luz arder ou não arder, é tudo igual;
circula o sangue, se oxigena o cérebro,
e a mão escreve o que hão de comentar no féretro,
quer faça chuva então, ou faça sol.
O que se foi, se foi – o sol luzido
e o vento e o raio e o tronco ao meio dividido;
a vida é um quase nada, é quase um sopro: é barro
que, modelado ou não, é sujo e caro.
***
AS PÊRAS DE DIANA
As pêras que colhida vaguidão de insossos minerais,
pensei mas não comi;
então não pude mais
que olhá-las e pensar comê-las mais.
As coloquei num cesto
para que mão alguma as machucasse;
e me era indigesto
notar, se examinasse,
que tinham marcas como se apanhassem.
À noite, famulento,
tomei e simplesmente as pus na boca;
que grande o meu contento
mesmo onde a carne é pouca;
pensar e não comer, que idéia louca.
***
IN DÜRFTIGER ZEIT
Havia um tempo em que eu andava triste,como lagarto em rocha estatelado:
trazia mais que o mundo sobre o rabo,
o que existe, e o que não existe.
Fui passear, a ver se me esquecia
do que pesava assim sobre meus “ombros”;
ora na merda, ora nos escombros,
fuçava tudo e nada recolhia.
“Outro soneto, então, meu caro Érico?
você só presta par tais bobagens?”
- me disse alguém (se gente) em tom pilhérico,
que vinha com meu rosto nas miragens.
A disciplina do deserto é esta:
não dá de graça, e o que te der não presta.
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