VENCIDOS
Nós ficaremos, como os menestréis da rua,
Uns infames reais, mendigos por incúria,
Agoureiros da Treva, adivinhos da Lua,
Desferindo ao luar cantigas de penúria?
Nossa cantiga irá conduzir-nos à tua
Maldição, ó Roland?... E, mortos pela injúria,
Mortos, bem mortos, e, mudos, a fronte nua,
Dormiremos ouvindo uma estranha lamúria?
Seja. Os grandes um dia hão de cair de bruço...
Hão de os grandes rolar dos palácios infetos!
E glória à fome dos vermes concupiscentes!
Embora, nós também, nós, num rouco soluço,
Corda a corda, o violão dos nervos inquietos
Partamos! inquietando as estrelas dormentes!
***
AO CAIR DA TARDE
Agora nada mais. Tudo silêncio. Tudo,
Esses claros jardins com flores de giesta,
Esse parque real, esse palácio em festa,
Dormindo à sombra de um silêncio surdo e mudo...
Nem rosas, nem luar, nem damas... Não me iludo,
A mocidade aí vem, que ruge e que protesta,
Invasora brutal. E a nós que mais nos resta,
Senão ceder-lhe a espada e o manto de veludo?
Sim, que nos resta mais? Já não fulge e não arde
O sol! E no coril negro deste abandono,
Eu sinto o coração tremer como um covarde!
Para que mais viver, folhas tristes do outono?
Cerra-me os olhos, pois, Senhor. É muito tarde.
São horas de dormir o derradeiro sono.
***
DOR
Ao Andrade Muricy
Noite. O céu, como um peixe, o turbilhão desova
De estrelas e fulgir. Desponta a lua nova.
Um silêncio espectral, um silêncio profundo
Dentro de uma mortalha imensa envolve o mundo
Humilde, no meu canto, ao pé dessa janela,
Pensava, oh! Solidão, como tu eras bela,
Quando do seio nu, do aveludado seio
Da noite, que baixou, a Dor sombria veio.
Toda de preto. Traz uma mantilha rica;
E por onde ela passa, o ar se purifica.
De invisível caçoila o incenso trescala,
E o fumo sobe, ondeia, invade toda a sala.
Ao vê-la aparecer, tudo se transfigura,
Como que resplandece a própria noite escura.
É a claridade em flor da lua, quando nasce,
São horas de sofrer. Que a dor me despedace.
Que se feche em redor todo o vasto horizonte,
E eu ponha a mão no rosto, e curve triste a fonte.
Que ela me leve, sem que eu saiba onde me leva,
Que me cubra de horror, e me vista de treva.
Ótimo post! Adoro a poesia dele, um dos maiores simbolistas do Brasil!
ResponderExcluirFaltou a poeisa Azar, que acho muito boa!