INTERROGAÇÃO
Contemplo
a noite: a cúpula estrelada
do
firmamento sobre mim palpita;
meu
olhar, que a interroga, embalde fita
o
olhar dos astros, que não vêem nada:
—
Nessa amplitude lôbrega e infinita
que
inteligência ou força inominada
numa
elipse traçou a vossa estrada,
estrelas
de ouro, que o mistério habita?
Dizei-me
se, transpondo a imensidade,
alguma
coisa a vós minha alma prende,
um
vínculo de amor ou de verdade.
Dizei-me
o fim da nossa vida agora:
para
que serve a luz que em vós resplende,
e
a oculta mágoa que em meu seio mora?...
***
FRACOS
Fracos,
odeio a inércia e detesto a fraqueza.
Prefiro
a mão que esmaga ou que vibra o punhal
À
doce e inconsciente e nefasta moleza,
Que
é para a alma do forte um veneno mortal.
Como de encontro à costa, em ondas remansadas
Chora o mar, ou se atira em bravos vagalhões,
Assim de encontro a vós, almas adormentadas,
Fremem de ódio e de amor os nossos corações.
Almas fracas, fugindo à aspereza das lides,
Sem um esforço para às correntes opor,
Pelo rio do tempo arrebatadas ides,
Desta ou daquela vaga a boiar ao sabor.
Que vos importa a vós a agonia da luta,
A ânsia de possuir, o infinito aspirar?
Que vos importa a vós a decepção que enluta,
Se não sabeis querer, nem sabeis adorar?!
***
ÚLTIMA
PÁGINA
Antes de mergulhar no silêncio da morre,
Ou da idade sentir a fraqueza e o torpor,
Eu quisera lançar, num supremo transporte,
Meu grito de revolta e meu grito de horror.
Mas sei que por mais forre e por mais estridente
Que ela corra através do infinito, até vós,
Ó céus, que além brilhais numa paz inclemente,
Nem qual brando rumor chegará minha voz!
Mas' sei que não há dor que a natureza vença,
E que nunca a fará de leve estremecer
Na sua eternidade e sua indiferença
O lamento que vem dum transitório ser.
Mas sei que sobre a face execrável da terra,
Onde cada alma sente, em torno, a solidão,
Esse grito, que a dor duma existência encerra,
Não irá ressoar em nenhum coração.
Contudo, num clamor de suprema energia,
Eu quisera lançar minha voz! Mas a quem
Enviar esse brado imenso de agonia,
Se para o compreender não existe ninguém?!
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