quarta-feira, 5 de setembro de 2012

PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS (1919-1992)

Péricles Eugênio da Silva Ramos teve seus primeiros poemas publicados no jornal carioca Diário de Notícias, em 1936. Estudou Direito em São Paulo, concluindo o curso em 1943. Na faculdade, ocorreu a publicação de seus poemas na antologia Poesia Sob as Arcadas, organizada, em 1940, por Ulysses Guimarães. Em 1947 fundou a Revista Brasileira de Poesia, com Domingos Carvalho da Silva e João Acioli, entre outros. Criou, a partir da revista, o Clube de Poesia de São Paulo, do qual foi presidente em 1952 e entre 1958 e 1963. Nos anos seguintes traduziu várias obras, entre elas poemas de Byron, François Villon e Góngora. Também organizou antologias de diversos poetas e publicou os livros de ensaios O Verso Romântico e Outros Ensaios e Do Barroco ao Modernismo. Entre 1966 e 1992 lecionou Literatura Portuguesa e Técnica Redatorial na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Em 1970 exerceu o cargo de diretor técnico do Conselho Estadual de Cultura; foi um dos criadores do Museu de Arte Sacra de São Paulo, do Museu da Imagem e do Som e do Museu da Casa Brasileira. Recebeu, em 1988, o prêmio de Poesia, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, pelo livro A Noite da Memória (1988). Sua obra poética, vinculada à terceira geração do Modernismo, inclui os livros Lamentação Floral (1946), Sol sem Tempo (1953), Lua de Ontem (1960), Futuro (1968) e Poesia quase Completa (1972). A respeito de sua obra, o poeta Cassiano Ricardo escreveu: "pela natureza mesma de vossa poesia, tanto em Lamentação Floral como em Sol Sem Tempo, sois um criador de figuras não só de linguagem senão ainda de figuras corpóreas: 'remarei sobre teus seios, galera branca de lua'.".






DEZESSETE HORAS


1.
Arde a tarde,
nua.

Nua como um rosto,
nua como um seio
no ar.


2.
Há um rumor
nos troncos
maduros de mel.

Zumbe a noite

(a noite? A noite),

zumbe a noite,
opaca. Misteriosa. Indevassável.

Próxima.



***


PRENÚNCIO


1

Passa o vento,
as folhas tremem:
a sombra se inquieta.


2

Do topo dos ipês
cai a sombra:
rendada, sonhadora, espiritual.

O sol, os ipês, a sombra;
o tempo, o homem, sua sombra:
breve passagem pela terra,
e a grande sombra,
constelar, definitiva, irmã das pedras.


***


CÉUS NOSSOS


Céus nossos, terra nossa,
nossa é a graça,
a graça de existir por um momento.

Chamas, ensinai-nos a lição
de iluminar morrendo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário