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Péricles
Eugênio da Silva Ramos teve seus primeiros poemas publicados no jornal carioca Diário de Notícias, em 1936. Estudou
Direito em São Paulo, concluindo o curso em 1943. Na faculdade, ocorreu a
publicação de seus poemas na antologia Poesia
Sob as Arcadas, organizada, em 1940, por Ulysses Guimarães. Em 1947 fundou
a Revista Brasileira de Poesia, com
Domingos Carvalho da Silva e João Acioli, entre outros. Criou, a partir da revista, o Clube de Poesia de São Paulo, do
qual foi presidente em 1952 e entre 1958 e 1963. Nos anos seguintes traduziu
várias obras, entre elas poemas de Byron, François Villon e Góngora. Também
organizou antologias de diversos poetas e publicou os livros de ensaios O Verso Romântico e Outros Ensaios e Do
Barroco ao Modernismo. Entre 1966
e 1992 lecionou Literatura Portuguesa e Técnica Redatorial na Faculdade de
Comunicação Social Cásper Líbero. Em 1970 exerceu o cargo de diretor técnico do
Conselho Estadual de Cultura; foi um dos criadores do Museu de Arte Sacra de
São Paulo, do Museu da Imagem e do Som e do Museu da Casa Brasileira. Recebeu,
em 1988, o prêmio de Poesia, concedido pela Associação Paulista de Críticos de
Arte, pelo livro A Noite da Memória (1988).
Sua obra poética, vinculada à terceira geração do Modernismo, inclui os livros Lamentação Floral (1946), Sol sem Tempo (1953), Lua de Ontem (1960), Futuro (1968) e Poesia quase Completa (1972). A respeito de sua obra, o poeta
Cassiano Ricardo escreveu: "pela natureza mesma de vossa poesia, tanto em Lamentação Floral como em Sol Sem Tempo, sois um criador de
figuras não só de linguagem senão ainda de figuras corpóreas: 'remarei sobre
teus seios, galera branca de lua'.".
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DEZESSETE HORAS
1.
Arde a tarde,
nua.
Nua como um rosto,
nua como um seio
no ar.
2.
Há um rumor
nos troncos
maduros de mel.
Zumbe a noite
(a noite? A noite),
zumbe a noite,
opaca. Misteriosa. Indevassável.
Próxima.
***
PRENÚNCIO
1
Passa o vento,
as folhas tremem:
a sombra se inquieta.
2
Do topo dos ipês
cai a sombra:
rendada, sonhadora, espiritual.
O sol, os ipês, a sombra;
o tempo, o homem, sua sombra:
breve passagem pela terra,
e a grande sombra,
constelar, definitiva, irmã das pedras.
***
CÉUS NOSSOS
Céus nossos, terra nossa,
nossa é a graça,
a graça de existir por um momento.
Chamas, ensinai-nos a lição
de iluminar morrendo.
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