ALTAMISA
Silêncio!
Escuta a brisa que murmura,
e
sobre as folhas rola e se desliza,
a
balançar as flores d’altamisa,
tão
perfumadas, prenhes de candura.
Tu
podes escutar a doce brisa?
Ouvir
a sua voz na noite escura?
Nas
flores d’altamisa ela perdura
e
faz juras d’amor, à sua guisa!
E
com seu jeito firme, mas galante,
do
modo que s’espera d’um amante,
nos
braços d’altamisa caí, s’enlaça.
Ao
alisar-lhe com seu jeito arfante,
nela
roçando quando lento passa,
quanta
mesura! Quanto garbo e graça!
***
DEVANEIOS
Bem que podias vir adormecer na rede
ouvindo o sabiá que canta na mangueira,
e tantos bem-te-vis que ciscam pela beira
e vem no pote meu matar a sua sede.
Na rede adormecer sentindo o doce cheiro
das flores a se abrir, soltando o seu perfume,
enquanto lá no céu a lua vem, relume,
e o vento a farfalhar nas folhas do coqueiro.
Bem que podias, sim, amanhecer no rancho
no qual sozinha estou a te esperar querido,
ouvindo, do regato, o seu doce queixume.
Sem ti eu sofro só, qual passarinho implume
sem ninho, sem lugar, sentindo-se perdido
diante da extensão do céu escuro e ancho.
ouvindo o sabiá que canta na mangueira,
e tantos bem-te-vis que ciscam pela beira
e vem no pote meu matar a sua sede.
Na rede adormecer sentindo o doce cheiro
das flores a se abrir, soltando o seu perfume,
enquanto lá no céu a lua vem, relume,
e o vento a farfalhar nas folhas do coqueiro.
Bem que podias, sim, amanhecer no rancho
no qual sozinha estou a te esperar querido,
ouvindo, do regato, o seu doce queixume.
Sem ti eu sofro só, qual passarinho implume
sem ninho, sem lugar, sentindo-se perdido
diante da extensão do céu escuro e ancho.
***
BOI DE
CANGA
O boi de canga que, cortando areia,
arrasta, sem cessar, a própria vida,
cumprindo o seu destino e a sua lida
gemendo pela estrada, que volteia;
o sangue vai fervendo em sua veia,
a sua dor profunda é desvalida,
roçando vai, a canga, na ferida,
arrasta, sem cessar, a própria vida,
cumprindo o seu destino e a sua lida
gemendo pela estrada, que volteia;
o sangue vai fervendo em sua veia,
a sua dor profunda é desvalida,
roçando vai, a canga, na ferida,
no caminho, que o rio, além, ladeia.
Escravo, sem saída, sofre e chora,
ferindo, a dura canga, o seu pescoço
e nada vendo além das vis viseiras.
E na subida, a dor seu ser devora,
mas gemendo, fazendo grande esforço,
vai vencendo as mais íngremes ladeiras
Escravo, sem saída, sofre e chora,
ferindo, a dura canga, o seu pescoço
e nada vendo além das vis viseiras.
E na subida, a dor seu ser devora,
mas gemendo, fazendo grande esforço,
vai vencendo as mais íngremes ladeiras