SONETO
Não
vos traga tristeza a chuva fria
a se esgueirar nas tardes sem corola.
Sobe o chumbo (o sem cor) das coisas vivas
sufocando o clamor das vossas horas.
Sobre o ontem deitastes. Neve amiga
da pegada os sinais na terra afoga
(vede o exemplo da nuvem que destila
o fel de si na gota que se evola).
Sede o espelho, não mais. O próprio nervo
se desfaça no plano de cristal
onde a imagem enfim se compreende.
Plenitude da origem e do termo
o nimbo vos ensine o largo mar.
Sereis então o grande indiferente.
a se esgueirar nas tardes sem corola.
Sobe o chumbo (o sem cor) das coisas vivas
sufocando o clamor das vossas horas.
Sobre o ontem deitastes. Neve amiga
da pegada os sinais na terra afoga
(vede o exemplo da nuvem que destila
o fel de si na gota que se evola).
Sede o espelho, não mais. O próprio nervo
se desfaça no plano de cristal
onde a imagem enfim se compreende.
Plenitude da origem e do termo
o nimbo vos ensine o largo mar.
Sereis então o grande indiferente.
***
CASTRAÇÃO
Com
suas iníquas
máquinas de tédio
aprende o degredo
com seus chãos reversos
— com suas escumas
de vinagre e pasmo
celebra os opróbrios
com seu desamparo
— com suas sezões
de pejo e salsugem
arqueja os verões
com seus gozos rudes
— com suas ilhargas
de fuligem e asco
deslembra as novilhas
com seus curvos favos
— com suas obesas
barbelas de adorno
ostenta a vergonha
com seu grão roncolho.
máquinas de tédio
aprende o degredo
com seus chãos reversos
— com suas escumas
de vinagre e pasmo
celebra os opróbrios
com seu desamparo
— com suas sezões
de pejo e salsugem
arqueja os verões
com seus gozos rudes
— com suas ilhargas
de fuligem e asco
deslembra as novilhas
com seus curvos favos
— com suas obesas
barbelas de adorno
ostenta a vergonha
com seu grão roncolho.
***
O AÇUDE
Há
neste açude lendas afogadas,
deuses
dormindo o sono que os transcende.
Nenhuma
sede irá buscá-lo incauta.
Nele,
porém, dois cães vigiam sempre.
Não
há peixes no açude, nem há vagas.
A
seu apelo mudo na atende
O
vento viajor das madrugadas.
O
açude é um cemitério diferente.
Os
mesmos cães na ladram. Pelo afã
Soment
é que parecem-nos dois cães.
O
açude é um muro longo, erguido em gelo,
Que
por castigo os deuses sem destino
tornaram
mausoléu, doando ao limo
o
segredo final para rompê-lo.
Bom encontrar esse poeta
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