quarta-feira, 27 de março de 2013

FRANCISCO CARVALHO (1927-2013)

Francisco Carvalho é filho de Clicério Leite de Carvalho e Maria Helena de Carvalho. Nasceu em Russas, Ceará próximo a Santa Cruz do Borges. Fez os estudos primários para mais tarde ingressar no Ateneu São Bernardo, em Russas onde publicou seus primeiros versos numa pequena tipografia. Permaneceu em Russas até 1939, ano em que seu pai veio a falecer após longos seis meses de agonia, fato este que marcaria por toda a vida a memória do poeta. Foi então para a cidade de Fortaleza,capital do Estado do Ceará, levando a família. Ali fixou-se ingressando como profissional de carreira da Universidade Federal do Ceará. Fez parte da vida intelectual de Fortaleza participando de movimentos literários e mantendo relações de amizade com os principais escritores de seu tempo. Em 1996 sua obra Raízes da Voz seria escolhida para leitura do vestibular daquele ano. Em 2004 o cantor e compositor cearense Raimundo Fagner lançou o álbum Donos do Brasil com as seguintes composições de Carvalho: O Bicho Homem, Esse Touro Vale Ouro, Cesta Básica, Reino/Minueto da Porta. Em 2009, foi concedido o Prêmio Francisco Carvalho de Poesia, com uma pequena publicação, na ocasião do evento anual XI Encontro Cultural Russano. Em 2012, aos 85 anos, o poeta teve parte de sua obra poética traduzida para o búlgaro. Francisco morreu em 4 de março de 2013, por volta das 23h30. A causa da morte do escritor foi falência múltipla dos órgãos.







VERDADE


Minha verdade é um punhado
de sonhos extraviados.

minha verdade são os mortos
que pelejam contra mim.

são as palavras e a marca
do seu reflexo no espelho.

minha verdade é este sangue
da noite desmoronada.

minha verdade é a memória
do meu remorso bastardo.

minha verdade é a incerteza
do tempo que nos rumina.

minha verdade é esta insônia
que me atravessa a retina

como uma flecha de areia
que abrisse a carne da rima.

minha verdade é esta negra
ronda do corpo e da alma

este saber que me iludo
e este cansaço de tudo.


***




SONETO À RENDEIRA


O linho é uma oração remota, nesse
fluir fabril de fio para a flor.
Move-se o coração da moça, e esquece
o tempo prisioneiro, em derredor

da sombra esguia que à almofada tece.
Move-se, em seu afã modelador
de paz, o mito imemorial da prece
que do limbo da morte inventa o amor.

Movem-se dentro dela o sol e o vento.
Move-se o mar, e os pórticos se movem
das águas em perpétuo movimento...

Move-se a gênese em seu corpo jovem.
E, enquanto o olhar medita, os dedos tecem
gestos de amor que os lábios não conhecem.

***


CALAFRIO


O amor
é um calafrio
que nos percorre
o corpo
e deságua
na foz
de um secreto rio.



Nenhum comentário:

Postar um comentário