terça-feira, 2 de setembro de 2014

PATRICE DE MORAES (1968 - )

João Patrice Machado de Moraes (1968-    ), baiano, natural de Conceição do Jacuípe (Berimbau), é professor formado pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Sua primeira incursão pela literatura se deu em 1997, quando participou de uma coletânea denominada Reviravolta, Versos e Textos.  Neste mesmo ano participa do Concurso Nacional de Poesia e Prosa Castro Alves promovido pelo CEPA (Círculo de Estudo, Pensamento e Ação), Salvador, tendo recebido certificado de menção honrosa.  A poesia de Patrice de Moraes é uma poesia que sempre se quer cinética, que pretende romper os limites da impressão simplória e alçar à consubstanciação da mais pura e didática alegoria, ou seja, uma poesia que substitui o abstrato pelo aparentemente concreto, ou, como melhor definiu Coleridge, citado por César Leal em seu Os cavaleiros de Júpiter, uma “transposição de noções abstratas para uma linguagem de cores”.  Assim, cada poema de Patrice faz-se de imagens intencificadoras, dentro de um sistema que permite muito bem a isso; uma imagem representando um conceito ao qual se pretende, ou, simplesmente, comunicar, por meio de imagens puras e gradativas, o despertar dos sentidos, onde certas questões, como a do erotismo, são bem menos um assunto do que uma maneira de metaforizar, como nos dirá Jessé de Almeida Primo: “nesse sentido, sua poesia é tão erótica quanto toda poesia de qualidade deve ser, pouco importando seu assunto”. Mas é, evidentemente, o próprio poeta quem nos dá o melhor exemplo... Já publicou textos no Jornal Noite e Dia e Tribuna Feirense, ambos de Feira de Santana. É autor dos livros: Eurótico (Éros, 2005) e Minha Bahia (Mondrongo, 2013). Seus próximos livros, Amor em Carne Viva (poemas) e Conta-gotas (hai-kais) estão no prelo...






SERVIDÃO



 Não luto contra a carne: eu a respeito.
Não posso lhe negar o seu direito
de realizar-se como ser, sujeito
vivo, por natureza insatisfeito,

regido dia e noite sob o efeito
da libido, veículo eleito
pra dar à carne o físico conceito
de prazer. Quanto mais sinto no peito

convocação da carne para o leito,
mais sou file a ela, mais aceito
servi-la  ― sem mostrar-me contrafeito ―,

afinal no meu sangue flui o preceito
de insaciabilidade  ― que aproveito
até me ver esgotado, rarefeito.

***


MINHA BAHIA


POEMA  XV

 Sofrer..., mas ser da fé um puritano.
Sorrir inda que o sofrimento insista.
São esses os caminhos do otimista,
principalmente quando ele é baiano.

Viver feliz não é nenhum engano.
Sabemos que nem tudo é “terra à vista”!
Mas cada ritmo expressa uma conquista
que faz-nos liberar o lado ufano,

apimentado da baianidade
que nos tornou exemplo de saudade
no coração de quem sente a Bahia.

É o beijo de um amor que se quer ter,
reverenciando-o, e com ele assim viver
um estado em eterno estado de poesia!


***


TEU CHEIRO


 Teu corpo exala um cheiro inconfundível!
Fragmenta-se atrás dele um só desejo
em mil e um cachorros em cortejo
...farejando o intocável no impossível!

Com uma devoção inexaurível
inalo-o como um solo sertanejo
que absorve a santa chuva de sobejo
após anos de seca corrosível.

Teu cheiro para mim é o manifesto
da carne apimentada pelo gesto
do amor quimicamente transformado

...em síntese olfativa de uma luz
que sedutoramente me conduz
a um plano tão profano quão sagrado!


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