CADÁVER DE VIRGEM
Estava no caixão como num leito,
palidamente fria e adormecida;
as mãos cruzadas sobre o casto peito,
e em cada olhar sem luz um Sol sem vida.
Pés atados com fita em nó perfeito,
de roupas alvas de cetim vestida;
o tronco duro, rígido, direito,
a face calma, lânguida, dorida...
O diadema das virgens sobre a testa,
níveo lírio entre as mãos, toda enfeitada,
mas como noiva, que cansou na festa.
Por seis cavalos brancos arrancada...
onde irás tu passar a longa sesta
na mole cama, em que te vi deitada?!...
Estava no caixão como num leito,
palidamente fria e adormecida;
as mãos cruzadas sobre o casto peito,
e em cada olhar sem luz um Sol sem vida.
Pés atados com fita em nó perfeito,
de roupas alvas de cetim vestida;
o tronco duro, rígido, direito,
a face calma, lânguida, dorida...
O diadema das virgens sobre a testa,
níveo lírio entre as mãos, toda enfeitada,
mas como noiva, que cansou na festa.
Por seis cavalos brancos arrancada...
onde irás tu passar a longa sesta
na mole cama, em que te vi deitada?!...
***
A PRIMEIRA LÁGRIMA
Quando a primeira lágrima caindo,
pisou a face da mulher primeira,
o rosto dela assim ficou tão lindo
e Adão beijou-a de uma tal maneira,
que anjos e Tronos pelo espaço infindo
qual rompe a catadupa prisioneira,
as seis asas de azul e d'ouro abrindo,
fugiram numa esplêndida carreira.
Alguns, pousando à próxima montanha,
queriam ver de perto os condenados
da dor fazendo uma alegria estranha.
E ante o rumor dos ósculos dobrados,
todos queriam punição tamanha,
ansiosos, mudos, trêmulos, Pasmados...
Quando a primeira lágrima caindo,
pisou a face da mulher primeira,
o rosto dela assim ficou tão lindo
e Adão beijou-a de uma tal maneira,
que anjos e Tronos pelo espaço infindo
qual rompe a catadupa prisioneira,
as seis asas de azul e d'ouro abrindo,
fugiram numa esplêndida carreira.
Alguns, pousando à próxima montanha,
queriam ver de perto os condenados
da dor fazendo uma alegria estranha.
E ante o rumor dos ósculos dobrados,
todos queriam punição tamanha,
ansiosos, mudos, trêmulos, Pasmados...
***
A SAÍDA
O galo
canta: o ar, que freme, é quente:
desce ruflando pelo vale o vento;
há no horizonte os rolos de uma enchente
do mar, que invade e doira o firmamento.
Toca a sineta; vem saindo a gente
da senzala, num jorro sonolento:
depois da reza, a passo tardo e lento,
enxada ao ombro, dois a dois em frente,
Ao eito vão pelo carreiro aberto:
o mato cheira, rumorejam ninhos
no cafezal, de branca flor coberto...
Há um grande chilrar de passarinhos...
e enquanto o escravo vai... segue-o de perto
a risada da luz pelos caminhos...
desce ruflando pelo vale o vento;
há no horizonte os rolos de uma enchente
do mar, que invade e doira o firmamento.
Toca a sineta; vem saindo a gente
da senzala, num jorro sonolento:
depois da reza, a passo tardo e lento,
enxada ao ombro, dois a dois em frente,
Ao eito vão pelo carreiro aberto:
o mato cheira, rumorejam ninhos
no cafezal, de branca flor coberto...
Há um grande chilrar de passarinhos...
e enquanto o escravo vai... segue-o de perto
a risada da luz pelos caminhos...
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