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Luiz Caetano Pereira de Guimarães Júnior: diplomata, poeta, romancista e teatrólogo, Foi um dos dez
membros eleitos para se completar o quadro de fundadores da Academia Brasileira
de Letras, onde criou a Cadeira n. 31, que tem como patrono o poeta Pedro Luís.
Era filho de Luís Caetano Pereira Guimarães,
português, e de Albina de Moura, brasileira. (Há uma divergência na data de seu
nascimento: Sílvio Romero indica o ano de 44; outras fontes registram 1847. A
filha do poeta, D. Iracema Guimarães Vilela, forneceu a Múcio Leão a data de
45.) Fez os primeiros estudos no Rio de Janeiro. Aos dezesseis anos escreveu o
romance Lírio branco, dedicado a Machado de Assis. Partiu para São Paulo, a fim
de continuar os estudos preparatórios, e lá recebeu uma carta de Machado de
Assis animando-o a prosseguir na carreira das letras. Fez o curso de Direito no
Recife entre 1864 e 1869. Ali assistiu ao desenvolvimento da "escola
condoreira", em que tomou parte mais ou menos diretamente. Continuou a
escrever, multiplicando-se no jornalismo e escrevendo livros de contos,
comédias e poesias. Aos 28 anos, apaixonado por Cecília Canongia, cogitou de se
casar. Sua situação no jornalismo e nas letras, embora brilhante, não lhe proporcionava
os meios para viver estavelmente. O poeta e amigo Pedro Luís, então ministro
dos Negócios Estrangeiros, oferece-lhe um lugar na diplomacia como secretário
de Legação em Londres. De 1873 a 1894, passou por vários outros postos, em
Santiago do Chile, em Roma, onde serviu sob as ordens de Gonçalves de
Magalhães, e em Lisboa; foi, depois, como enviado extraordinário, para Veneza.
Em 1894, transferiu-se, já aposentado, para Lisboa, onde veio a falecer.
Em Lisboa, como secretário de Legação, teve
ocasião de conhecer alguns dos mais ilustres espíritos do tempo. Foi amigo de
Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Fialho de Almeida.
Distinguia-se como poeta e como homem do mundo. Ramalho Ortigão assim o
definiu: "Como poeta, ele é um primeiro adido à legação da elegância... O
seu estilo tem um lavor de renda, uma suavidade de veludo e um fresco perfume
de toilette." Tinha predileção pelas cidades da arte e do pensamento. O
poeta celebra Londres, celebra Roma. Mais que tudo, porém, recorda o seu país.
Suas principais obras são Corimbos e Sonetos e rimas. O primeiro representa a
fase em que vivia no Brasil (1862 a 1872); o outro, o período em que residiu na
Europa. A apreciação de críticos e estudiosos como Vicente de Carvalho,
Medeiros e Albuquerque e Carlos de Laet, foi de pleno reconhecimento da poesia
de Luís Guimarães Júnior. Seus sonetos revelam um grande apuro da forma,
combinações métricas finas e sutis, e o gosto pelos motivos exóticos que ele
pôde sentir e observar em suas peregrinações por terras estrangeiras. Romântico
de inspiração, mas já dentro da orientação parnasiana, ele foi, no apuro da
expressão, um precursor da poesia de Raimundo Correia, Bilac e Alberto de
Oliveira.
Obras: Lírio
branco, romance (1862); Uma cena
contemporânea, teatro (1862); Corimbos,
poesia (1866); A família agulha,
romance (1870); Noturnos, poesia
(1872); Filigranas, ficção (1872); Sonetos e rimas, poesia (1880); Contos sem pretensão (1872); e
várias peças de teatro.
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Visita
à casa paterna
Como
a ave que volta ao ninho antigo,
depois de um longo e tenebroso inverno,
eu quis também rever o lar paterno,
o meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei.
Um gênio carinhoso e amigo,
o fantasma talvez do amor materno,
tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,
e, passo a passo, caminhou comigo.
Era
esta sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
em que da luz noturna à claridade,
minhas irmãs e minha mãe... O pranto
Jorrou-me
em ondas... Resistir quem há de?
uma ilusão gemia em cada canto,
chorava em cada canto uma saudade.
***
NOITE TROPICAL
Desceu a calma noite irradiante
sobre
a floresta e os vales semeados:
já
ninguém ouve os cantos prolongados
do
negro escravo, estúpido e arquejante.
Dorme
a fazenda: — apenas hesitante
a
voz do cão, em uivos assustados,
corta
o silêncio, e vai nos descampados
perder-se
como um grito agonizante.
Rompe
o luar, ensangüentado e informe,
brotam
fantasmas da savana nua ...
e,
de repente, um berro desconforme
parte
da mata em que o luar flutua,
e
a onça, abrindo a rubra fauce enorme,
geme
na sombra, contemplando a lua.
***
JAGUAR
Rosna
o fulvo jaguar, triste e dormente,
no
seio da floresta: — a fera inteira
dobra
à velhice, e a névoa derradeira
cobre-lhe
a fauce lívida e impotente.
O
imundo inseto, a mosca impertinente
zumbe-lhe
em torno; — a cobra traiçoeira
fere-lhe
a cauda inerte, e a aventureira
formiga
morde-o calma e indiferente.
Apenas
quebra o sono funerário
do
velho herói o grito, entre as folhagens,
do
cordeiro medroso e solitário;
ou,
através das tropicais aragens,
o
tropel afastado, intenso e vário
d'um
rebanho de búfalos selvagens.
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