SANDNESS
Meu
anjo inspirador não tem nas faces
as tintas coralíneas da manhã,;
nem tem nos lábios as canções vivaces
da cabocla pagã!
Não lhe pesa na fronte deslumbrante
coroa de esplendor e maravilhas,
nem rouba ao nevoeiro flutuante
as nítidas mantilhas.
Meu anjo inspirador é frio e triste
como o sol que enrubesce o céu polar!
trai-lhe o semblante pálido — do antiste
o acerbo meditar!
Traz na cabeça estema de saudades,
tem no lânguido olhar a morbideza;
veste a clâmide eril das tempestades,
e chama-se — Tristeza!...
as tintas coralíneas da manhã,;
nem tem nos lábios as canções vivaces
da cabocla pagã!
Não lhe pesa na fronte deslumbrante
coroa de esplendor e maravilhas,
nem rouba ao nevoeiro flutuante
as nítidas mantilhas.
Meu anjo inspirador é frio e triste
como o sol que enrubesce o céu polar!
trai-lhe o semblante pálido — do antiste
o acerbo meditar!
Traz na cabeça estema de saudades,
tem no lânguido olhar a morbideza;
veste a clâmide eril das tempestades,
e chama-se — Tristeza!...
***
RESIGNAÇÃO
No
silêncio das noites perfumosas,
Quando
a vaga chorando beija a praia,
Aos
trêmulos rutilos das estrelas,
Inclino
a triste fronte que desmaia.
E
vejo o perpassar das sombras castas
Dos
delírios da leda mocidade;
Comprimo
o coração despedaçado
Pela
garra cruenta da saudade.
Como
é doce a lembrança desse tempo
Em
que o chão da existência era de flores,
Quando
entoava o múrmur das esferas
A
copla tentadora dos amores!
Eu
voava feliz nos ínvios serros
Empós
das borboletas matizadas...
Era
tão pura a abóbada do elísio
Pendida
sobre as veigas rociadas!...
Hoje
escalda-me os lábios riso insano,
É
febre o brilho ardente de meus olhos:
Minha
voz só retumba em ai plangente,
Só
juncam minha senda agros abrolhos.
Mas
que importa esta dor que me acabrunha,
Que
separa-me dos cânticos ruidosos,
Se
nas asas gentis da poesia
Eleva-me
a outros mundos mais formosos?!...
Do
céu azul, da flor, da névoa errante,
De
fantásticos seres, de perfumes,
Criou-me
regiões cheias de encanto,
Que
a luz doura de suaves lumes!
No
silêncio das noites perfumosas
Quando
a vaga chorando beija a praia,
Ela
ensina-me a orar, tímida e crente,
Aquece-me
a esperança que desmaia.
Oh!
Bendita esta dor que me acabrunha,
Que
separa-me dos cânticos ruidosos,
De
longe vejo as turbas que deliram,
E
perdem-se em desvios tortuosos!...
***
POR QUE SOU FORTE
Dirás
que é falso. Não. É certo. Desço
Ao
fundo d’alma toda vez que hesito...
Cada
vez que uma lágrima ou que um grito
Trai-me
a angústia - ao sentir que desfaleço...
E
toda assombro, toda amor, confesso,
O
limiar desse país bendito
Cruzo:
- aguardam-me as festas do infinito!
O
horror da vida, deslumbrada, esqueço!
É
que há dentro vales, céus, alturas,
Que
o olhar do mundo não macula, a terna
Lua,
flores, queridas criaturas,
E
soa em cada moita, em cada gruta,
A
sinfonia da paixão eterna!...
-
E eis-me de novo forte para a luta.
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