sábado, 16 de junho de 2012

MÁRIO FAUSTINO (1930-1962)

Piauiense, de Teresina, iniciou-se como cronista n´A Província do Pará, aos 16 anos. Foi bolsista na Califórnia, de 1951 a 1952, estudando a literatura de língua inglesa. Tradutor da ONU em  Nova York, 1959-1960. Autor de um só livro – O Homem e sua Hora (Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1955) e de poemas esparsos, publicados em revistas e jornais. Notabilizou-se como crítico literário no SDJB (Suplemento Dominical do Jornal do Brasil) com a seção Poesia-Experiência, no auge dos movimentos concretista e neoconcretista. Traduziu Ezra Pound ao nosso idioma. Faleceu vítima de um acidente aéreo nos Andes peruanos, em missão jornalística.  A Global Editora, de São Paulo, publicou os seus Melhores Poemas, selecionados por Benedito Nunes, merecendo várias reimpressões...











Soneto


Necessito de um ser, um ser humano
que me envolva de ser
contra o não ser universal, arcano
impossível de ler

à luz da lua que ressarce o dano
cruel de adormecer
a sós, à noite, ao pé do desumano
desejo de morrer.

necessito de um ser, de seu abraço
escuro e palpitante
necessito de um ser dormente e lasso

contra meu ser arfante:
necessito de um ser sendo ao meu lado
um ser profundo e aberto, um ser amado.


***



O mundo que venci deu-me um amor...


O mundo que eu venci deu-me um amor,
um troféu perigoso, este cavalo
Carregado de infantes couraçados.
o mundo que venci deu-me um amor

alado galopando em céus irados,
por cima de qualquer muro de credo.
Por cima de qualquer fosso de sexo.
O mundo que venci deu-me um amor

amor feito de insulto e pranto e riso,
amor que força as portas dos infernos,
amor que galga o cume ao paraíso.

amor que dorme e treme. Que desperta
e torna contra mim, e me devora
e me rumina em cantos de vitória...



***



SONETO ANTIGO


Esse estoque de amor que acumulei
Ninguém veio comprar a preço justo.
Preparei meu castelo para um rei
Que mal me olhou, passando, e a quanto custo.

Meu tesouro amoroso há muito as traças
Comeram, secundadas por ladrões.
A luz abandonou as ondas lassas
De refletir um sol que só se põe

Sozinho. Agora vou por meus infernos
Sem fantasma buscar entre fantasmas.
E marcho contra o vento, sobre eternos

Desertos sem retorno, onde olharás
Mas sem o ver, estrela cega, o rastro
Que até aqui deixei, seguindo um astro.


 

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