VOU MORRENDO DEVAGAR
Eu sei cruel, que tu gostas,
Sim gostas de me matar;
Morro, e por dar-te mais gosto,
Vou morrendo devagar.
Eu gosto de morrer por ti;
Tu gostas de ver-me expirar;
Como isto é morte de gosto,
Vou morrendo devagar.
Amor nos uniu em vida,
Na morte nos quer juntar;
Eu, para ver como morres,
Vou morrendo devagar.
Perder a vida é perder-te;
Não tenho que me apressar;
Como te perco morrendo,
Vou morrendo devagar.
O veneno do ciúme
Já principia a lavrar;
Entre pungentes suspeitas
Vou morrendo devagar.
Já vai me calando as veias
Teu veneno de agradar;
E gostando eu de morrer,
Vou morrendo devagar.
Quando não vejo os teus olhos
Sinto-me então expirar;
Sustentado d'esperanças,
Vou morrendo devagar.
Os Ciúmes, e as Saudades
Cruel morte me vêm dar;
Eu vou morrendo aos pedaços,
Vou morrendo devagar.
É feliz entre as desgraças,
Quem logo pode acabar;
Eu, por ser mais desgraçado,
Vou morrendo devagar.
A morte, enfim, vem prender-me,
Já não lhe posso escapar;
Mas abrigado a teu Nome,
Vou morrendo devagar.
***
O NOME DO TEU PASTOR
(Cantiga)
No tronco de um verde Loiro
Me manda escrever Amor,
Misturado com teu nome,
O nome do teu Pastor.
Mil abelhas curiosas,
Revoando derredor,
Chupam teu nome, deixando
O nome do teu Pastor.
De um raminho pendurado,
Novo emplumado Cantor,
Suspirava ali defronte,
O nome do teu Pastor.
Ah! Lília, soberba Lília,
Donde vem tanto rancor?
Tu bem viste, mas não leste
O nome do teu Pastor.
Já não se via o teu nome,
Bando o levou roubador;
E ficou só desgraçado,
O nome do teu Pastor.
O teu nome que roubaram
A novo mel dá sabor
Sem o misto d'amargura
Do nome do teu Pastor.
***
A TERNURA BRASILEIRA
Não posso negar, não posso,
Não posso por mais que queira,
Que o meu coração se abrasa
De ternura Brasileira.
Uma alma singela e rude
Sempre foi mais verdadeira,
A minha por isso é própria
De ternura Brasileira.
Lembra na última idade
A paixão lá da primeira,
Tenho nos últimos dias
A ternura Brasileira.
Vejo a carrancuda morte
Ameigar sua viseira,
Por ver que ao matar-me estraga
A ternura Brasileira.
Caronte, que chega à barca,
E que me chama à carreira,
Vê que o batel vai curvando
Co’a ternura Brasileira.
Mal piso sobre os Elísios,
Outra sombra companheira
Chega, pasma, e não conhece
A ternura Brasileira.
Eu vejo a infeliz, Rainha
Que morre em ampla fogueira,
Por não achar em Enéias
A ternura Brasileira.
Do mundo a última parte
Não tem frase lisonjeira,
As três que a têm não conhecem
A ternura Brasileira.
Do mundo a última parte
Foi sempre em amar primeira
Pode às três servir de exemplo
A ternura Brasileira.
lindas poesias!!!!!!
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