sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

HENRIQUE WAGNER (1977- )


Poeta, contista e crítico de cinema e de literatura, colunista do jornal Sopa poesia e afins, e do site ExpoArt, Henrique Wagner publicou os livros de poesia: O grande pássaro e As horas do mundo e o ensaio A linguagem como estética do pensamento. Reside em Salvador, Bahia, onde nasceu no dia 16 de maio de 1977. Homem exótico teve uma infância cheia de medos e complexos. Criança reprimida, recalcada e com tédio. Assim, logo que completou seus18 anos, entregou-se ao casamento, sentindo-se à vontade para o retorno à casa paterna, logo que se findou o amor. O fruto deste casamento chama-se Miguel Wagner, que hoje conta dez anos de idade e vive em Brasília com a mãe. No âmbito materno, disputa com afinco, uma verdadeira guerra narcisista, quando se ver naquela que não é espelho. “Somos ambos neuróticos e impulsivos”. Na doçura do pai, encontrou o amor. Sua luta maior é interna. Típico dos poetas, realizarem suas grandes obras em meio as suas angústias e ansiedades. Com Henrique Wagner não foi diferente. Mas, não somente o sofrimento te inspira, também, os amores, dentre eles o amor de irmão e principalmente o amor paterno.






LIVRO*

O fundo é sempre falso e a quarta capa
é o chão que nos revela para o nada,
em frágeis pensamentos que ressoam
no escuro ou corta-luz do sol poente,
e a lâmpada circula nas paredes.

Profundo sem ser falso, ó ser de páginas
que voltam no presente, flor de sábias
pétalas de papel que jamais voam
sem palavra ou mudez sempre crescente,
e emprestam uma crendice às folhas verdes.

No fundo é sempre falsa uma palavra
que ao fundo não se volte, como ao nada,
sem lhe prestar direitos que destoam
de tudo o que dissera a decadente
leitura que o futuro o faz, sem lerdes.


***



O POMBO

Que da sacada chega ao muro
e não concebe um outro chão
além do asfalto, o falso puro,
onde se pisa até com a mão

e nem é mesmo muito escuro
mas acontece de ser chão,
falsa estatura, estranho muro
deitado, sem forjar senão

o anseio de virar buraco
e ser mais forte por ser fraco,
e num caminho que se enreda

entre pneus e entre sacadas,
das quais um pombo, em caminhadas,
constata o risco de uma queda.


***



A CASA DA INFÂNCIA


A casa onde morei
na infância
era imensa e cheia
de mistérios.
Os tios visitavam
minha sala
com freqüência
e com alarde.
Morava conosco
um tio-avô por parte
de pai, que fumava muito,
tossia muito e lia
todos os meus gibis de heróis.
As primas eram bonitas
e muito grandes, e só olhavam
para meu irmão mais velho,
que era baixinho e esturricado.
Meu quarto era nos fundos
e tinha uma janela
que dava para o quintal
da casa.
Um dia
todos foram à praia
e eu fiquei sozinho:
imenso e cheio de mistérios.





(*Poemas inéditos gentilmente cedidos pelo autor)

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