quinta-feira, 26 de abril de 2012

ÂNGELO MONTEIRO (1942- )




Ângelo Monteiro é um poeta e filósofo brasileiro. Nascido em Penedo, Alagoas, filho de um cirurgião dentista e uma operaria da indústria textil. Com a morte de sua mãe, mudou-se com a família para Pernambuco, onde, depois de se criar em Gravatá, finalmente se radicou, em 1971, no Recife, capital do estado, aí fazendo seu curso superior em Filosofia e se tornando, por meio de concurso público, professor de Estética e de Filosofia da Arte na Universidade Federal de Pernambuco. Poeta representativo e significativo, com uma poética inquietantes e enigmática. Possui obra considerável tanto na poesia como no ensaio. É tido pelo filósofo Olavo de Carvalho como um dos maiores intelectuais brasileiros em atividade.






o centauro

Teme a mim, que deito raízes
no limo de tua carne.
 Teme a mim, que trago a vertigem
dos polvos para enredar-te.

Ó teme a mim, que te cavalgo
sobre o sangue vicejante:
como a um pasto de claridade
aberto ao meu horizonte.

Como a um pasto a que eu sem freios,
e selvagem me descontraio,
teme: não tanto ao meu vermelho
mas à cor do meu desmaio.

Teme: não ao fogo desperto,
antes ao fogo dormido.
Não ao claro sol que te cresta
mas, ao que te rasga, escondido.


***

sol secreto

Entre túmidas colinas
de sedas mornas e claras;
nas tuas internas minas
queimas tua luz avara;

internamente lavrando,
sem que jamais se consuma,
seu fogo pobre, seu fogo
que de ser brando costuma.


***

DA INAUGURAÇÃO DO POEMA

Falar não basta a quem nasceu com o fado
de espalhar a beleza e o dom de amar.
A palavra só vale, se gerar
alguma coisa além do formulado.

De harmônica leveza no traçado,
que seja a frase aérea e linear.
Sem que se deixe nunca de lembrar
que a ordenação não peque pelo enfado.

Lúcido, quanto à forma; e quanto à essência,
que determina a forma do poema,
é mister se elabore em chão de ausência.

Colhendo o inesperado e o pressentido:
pois foi sempre no verso lei suprema
de que só no mistério tem sentido.

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