Ângelo Monteiro é um poeta e filósofo brasileiro. Nascido em Penedo, Alagoas, filho de um cirurgião dentista e uma operaria da indústria textil. Com a morte de sua mãe, mudou-se com a família para Pernambuco, onde, depois de se criar em Gravatá, finalmente se radicou, em 1971, no Recife, capital do estado, aí fazendo seu curso superior em Filosofia e se tornando, por meio de concurso público, professor de Estética e de Filosofia da Arte na Universidade Federal de Pernambuco. Poeta representativo e significativo, com uma poética inquietantes e enigmática. Possui obra considerável tanto na poesia como no ensaio. É tido pelo filósofo Olavo de Carvalho como um dos maiores intelectuais brasileiros em atividade. |
o centauro
Teme a mim, que deito raízes
no limo de tua carne.
Teme a mim, que trago a vertigem
dos polvos para enredar-te.
no limo de tua carne.
Teme a mim, que trago a vertigem
dos polvos para enredar-te.
Ó teme a mim, que te cavalgo
sobre o sangue vicejante:
como a um pasto de claridade
aberto ao meu horizonte.
sobre o sangue vicejante:
como a um pasto de claridade
aberto ao meu horizonte.
Como a um pasto a que eu sem freios,
e selvagem me descontraio,
teme: não tanto ao meu vermelho
mas à cor do meu desmaio.
e selvagem me descontraio,
teme: não tanto ao meu vermelho
mas à cor do meu desmaio.
Teme: não ao fogo desperto,
antes ao fogo dormido.
Não ao claro sol que te cresta
mas, ao que te rasga, escondido.
antes ao fogo dormido.
Não ao claro sol que te cresta
mas, ao que te rasga, escondido.
***
sol secreto
Entre túmidas colinas
de sedas mornas e claras;
nas tuas internas minas
queimas tua luz avara;
de sedas mornas e claras;
nas tuas internas minas
queimas tua luz avara;
internamente lavrando,
sem que jamais se consuma,
seu fogo pobre, seu fogo
que de ser brando costuma.
sem que jamais se consuma,
seu fogo pobre, seu fogo
que de ser brando costuma.
***
DA
INAUGURAÇÃO DO POEMA
Falar não basta a quem nasceu com o fado
de espalhar a beleza e o dom de amar.
A palavra só vale, se gerar
alguma coisa além do formulado.
de espalhar a beleza e o dom de amar.
A palavra só vale, se gerar
alguma coisa além do formulado.
De harmônica leveza no traçado,
que seja a frase aérea e linear.
Sem que se deixe nunca de lembrar
que a ordenação não peque pelo enfado.
que seja a frase aérea e linear.
Sem que se deixe nunca de lembrar
que a ordenação não peque pelo enfado.
Lúcido, quanto à forma; e quanto à essência,
que determina a forma do poema,
é mister se elabore em chão de ausência.
que determina a forma do poema,
é mister se elabore em chão de ausência.
Colhendo o inesperado e o pressentido:
pois foi sempre no verso lei suprema
de que só no mistério tem sentido.
pois foi sempre no verso lei suprema
de que só no mistério tem sentido.
São poemas clássicos
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