É advogada e poeta. Em 2004,
participou da coletânea Os outros poemas
de que falei, editado pelo Banco Capital. Em 2005, conquistou o Prêmio
Braskem de Cultura e Arte, com o livro As
casas onde eu morei, entre outros. Integra o Dicionário de escritores baianos, editado pela Secretaria de
Cultura e Turismo e da Fundação Cultural do Estado da Bahia em 2006. Participa
da coleção Poetas da década de 2000, coordenada
por Marco Lucchesi.
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Oito anos e o meu leão
Quando o meu leão chegou,
eu tinha chocalhos amarrados nas canelas,
e foi assim que subi a ladeira para encontrá-lo:
abandonando minhas meninas-brincadeiras.
Meu leão, com seu sem fim de pêlos,
juba e muitas feridas,
ocupava toda a carreta,
estacionada bem na frente lá de casa.
Grades negras e minha avó fincadas
em minha primeira morada,
prisão que me implorava:
– não vá, entre!
Fui, sem sequer ouvir essas vozes.
Meu leão havia chegado.
E subi na carreta para sentir com as mãos,
como era grande o meu leão.
Alisei-o. Montei-o.
E só em nuvens e carneiros de infância
pode-se vislumbrar a beleza deste encontro,
a efígie deste Deus.
Quando o meu leão chegou,
eu tinha chocalhos amarrados nas canelas,
e foi assim que subi a ladeira para encontrá-lo:
abandonando minhas meninas-brincadeiras.
Meu leão, com seu sem fim de pêlos,
juba e muitas feridas,
ocupava toda a carreta,
estacionada bem na frente lá de casa.
Grades negras e minha avó fincadas
em minha primeira morada,
prisão que me implorava:
– não vá, entre!
Fui, sem sequer ouvir essas vozes.
Meu leão havia chegado.
E subi na carreta para sentir com as mãos,
como era grande o meu leão.
Alisei-o. Montei-o.
E só em nuvens e carneiros de infância
pode-se vislumbrar a beleza deste encontro,
a efígie deste Deus.
***
Primeira casa
Nasci com duas ou três casas,
sem morada certa,
e em dias de chuva,
minha mãe me exibia aos olhares do mundo.
Sozinha, minha mãe vivia à espera,
algo que nunca veio,
sempre de cabeça baixa,
por isso, não me viu fugir.
Contam que ela chorou muito,
quando deu pelos rastros,
tudo que restou entre ela e eu.
Nasci com duas ou três casas,
sem morada certa,
e em dias de chuva,
minha mãe me exibia aos olhares do mundo.
Sozinha, minha mãe vivia à espera,
algo que nunca veio,
sempre de cabeça baixa,
por isso, não me viu fugir.
Contam que ela chorou muito,
quando deu pelos rastros,
tudo que restou entre ela e eu.
***
Ausência
Revejo a velha ladeira,
estou no bonde.
Meninas-brincadeiras,
uma criança que se esconde: eu.
Aceno, quero falar,
mas já estou longe.
Dizem que lá,
ainda está a menina,
até hoje.
A menina que não houve.
Revejo a velha ladeira,
estou no bonde.
Meninas-brincadeiras,
uma criança que se esconde: eu.
Aceno, quero falar,
mas já estou longe.
Dizem que lá,
ainda está a menina,
até hoje.
A menina que não houve.
Por que é que ainda se escreve sobre "ausência" neste mundo? Eita palavrinha batida, ideia batida, "metáfora" batida... Ausência... E depois, o desfecho clássico: "A menina que não houve"... Paciência...
ResponderExcluirLuis