VOZ ÍNTIMA
Fecha-te,
sofredor, na alva túnica ondeante
Dos sonhos! E caminha, e prossegue, embebido,
Muito embora, na dor de um fiei celebrante
De um estranho ritual desdenhado e esquecido!
Dos sonhos! E caminha, e prossegue, embebido,
Muito embora, na dor de um fiei celebrante
De um estranho ritual desdenhado e esquecido!
Deixa
ressoar em torno o bárbaro alarido,
Deixa que voe o pó da terra em torno... Adiante!
Vai tu só, calmo e bom, calmo e triste, envolvido
Nessa túnica ideal de sonhos, alvejante.
Deixa que voe o pó da terra em torno... Adiante!
Vai tu só, calmo e bom, calmo e triste, envolvido
Nessa túnica ideal de sonhos, alvejante.
Sê, nesta
escuridão do mundo, o paradigma
De um desolado espectro, uma sombra, um enigma,
Perpassando sem ruído a caminho do Além.
De um desolado espectro, uma sombra, um enigma,
Perpassando sem ruído a caminho do Além.
E só
deixes na terra uma reminiscência:
A de alguém que assistiu à luta da existência,
Triste e só, sem fazer nenhum mal a ninguém.
A de alguém que assistiu à luta da existência,
Triste e só, sem fazer nenhum mal a ninguém.
***
SONETO
Eu tenho
sido para muito amigo,
Qual velho rancho, à beira de uma estrada,
Onde busca o viandante, à noite, abrigo,
E de onde parte pela madrugada.
Parte. O sol o protege. A caminhada
É suave. Nem mais sombra de perigo.
Canta, e nem olha para trás. E nada
Leva das horas, que passou comigo.
Mas que há de se levar de um pouso aberto?
Ei-lo que se escancara no deserto:
Entra-se; faz-se fogo; arma-se o ninho;
E lá se deixa, quando a noite passa,
Um bocado de cinza e de fumaça,
Dentro do rancho à beira do caminho.
Qual velho rancho, à beira de uma estrada,
Onde busca o viandante, à noite, abrigo,
E de onde parte pela madrugada.
Parte. O sol o protege. A caminhada
É suave. Nem mais sombra de perigo.
Canta, e nem olha para trás. E nada
Leva das horas, que passou comigo.
Mas que há de se levar de um pouso aberto?
Ei-lo que se escancara no deserto:
Entra-se; faz-se fogo; arma-se o ninho;
E lá se deixa, quando a noite passa,
Um bocado de cinza e de fumaça,
Dentro do rancho à beira do caminho.
***
CREPÚSCULO SERTANEJO
Cai a
noite. Um rubor fulge atrás da colina,
cuja sombra se alonga a pouco e pouco, enorme.
A velha árvore, além, verde nuvem, se inclina
para o chão, balançando o vulto desconforme.
É uma nota profunda a vibrar na surdina
das cores e da luz, no amplo vale que dorme.
No silêncio feral, que é uma vaga neblina
de sons, passa-lhe a voz como um borrão informe.
Sob a copa uma forma em cinza se desmancha.
Um boi cansado busca a figueira cansada;
muge, e deita-se, em paz, numa violácea alfombra.
Muge. A fronde e o animal fazem uma só mancha;
o mugido e o rumor da fronde, a mesma zoada.
Manchas de som... Zoadas de cor... Silêncio. Sombra.
cuja sombra se alonga a pouco e pouco, enorme.
A velha árvore, além, verde nuvem, se inclina
para o chão, balançando o vulto desconforme.
É uma nota profunda a vibrar na surdina
das cores e da luz, no amplo vale que dorme.
No silêncio feral, que é uma vaga neblina
de sons, passa-lhe a voz como um borrão informe.
Sob a copa uma forma em cinza se desmancha.
Um boi cansado busca a figueira cansada;
muge, e deita-se, em paz, numa violácea alfombra.
Muge. A fronde e o animal fazem uma só mancha;
o mugido e o rumor da fronde, a mesma zoada.
Manchas de som... Zoadas de cor... Silêncio. Sombra.
Quanta beleza! Quanta!
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