Aquela
que não quis ser...
Nunca a
mulher eleita
a mãe, a
caseira. Jamais
a
primogênita aceita.
Nunca a
preferida assumida
ou a bela
primeira legitimada.
Sempre a
repartida, a preterida.
Dentre
todas inteiras, a fragmentada.
Nela só a
astúcia cruel,
molemente
enraizada.
Só que a
vida deu de adoecer
nela se
putrefar
deu de
sucumbir, se escrever
desabrochar
e
desabafando,
a jogou
bem no meio do mar.
***
O
Inominável
Semente
de horas invisíveis
Saudade
aflita do que não vivi –
navio de
desejos enrugados.
Morada no
cume do monte ensolarado
tempestade
muda que desaba.
E lá, bem
dentro do coração,
desespero
de intensa toada,
aquele
vazio.
Não é
fácil sentir os pelos na pele
contar as
horas em que apenas sonho
e ver
sentada o infinito cínico doído:
aquilo
que não tem nome.
***
Faces
Lúrida é
esta vida
que de
triste anda esquecida
à agulha
violenta do tempo;
sempre o
segredo, o erro,
e de dor,
angústia e medo
vai
deixando-se matar.
Pálida,
de sozinha gozar
o azul
pleno e escondido,
escurecida
é, pela sanha
soturna
do esquecimento;
ah, se a
lira inviolável
que ama o
cosmo
iluminasse,
perdida,
meu colo
imponderável
o bafo da
sombra final
não
seria, digamos assim,
tão
certo, tão ácido.
Belissímos poemas ! Parabéns Clarissa e parabéns Silvério pelo blog !
ResponderExcluirSó que a vida deu de adoecer
ResponderExcluirnela se putrefar
deu de sucumbir, se escrever
desabrochar
Clarissa Macedo é daquelas que mantém viva a nossa esperança na poesia, que mantém viva a tradição da poesia baiana, sem deixar de oferecer alguma coisa de novo. Seus poemas são, quase sempre, paradoxalmente singelos e de uma feminilidade agressiva. Não sei a que comparar. Mas se soubesse, compararia às sereias, que seduzem, mas matam.