JANELA ACESA
A
moça se inclina sobre o parapeito,
silêncio,
flor branca guardada.
Perdida
de mim, a moça ausente me olha.
É a minha
alma que ela espreme entre os dedos ferozes.
A moça
habita o azul,
entre
nuvens, anjos e pássaros, seu rosto sem sol.
Suspensa
nos olha, atrás da vidraça, seu nicho de santa,
sua vida
que eu não conheço.
De longe
eu a vejo, princesa do céu,
enquanto
estou preso em mim.
***
POUSO
Para me
aninhar nos teus braços percorri mil oceanos,
As águas
profundas de mim mesma.
Até
dormir a teu lado passei as noites em claro,
Percorri
os subterrâneos.
Para ver
os teus olhos tive que descobrir os meus,
Meus
olhos pousados sobre pedras quentes.
Chegar a
ti foi tudo o que fiz. E foi o bastante.
***
PEQUENA
VALSA PARA O FUNERAL DAS HORAS.
Se eu
pudesse, minha irmã, ouvir o que ela ouvia
Quando olhava, em
silêncio, os relógios, seus ponteiros a girar.
Se eu pudesse escutar o
som que eles faziam,
O tempo que existia,
quando o tempo costumava a caminhar.
As mulheres costumavam
engordar,
Os homens desatavam a
beber,
Os velhos tinham o
hábito de morrer,
E o tempo não parava de
passar.
Se eu pudesse
acompanhar seus olhos que seguiam
As horas que morriam
quando outras começavam a nascer.
Se eu pudesse escutar
que o som do que ela via
Era um tal barulho
imenso que podia, em silêncio, ensurdecer.
Quando ainda era cedo.
Quando ela ainda podia
ficar.
Quando ela ainda queria
me ver.
E o tempo não parava de
passar.
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