Ana Elisa Ribeiro nasceu em Belo Horizonte, capital
de Minas Gerais. Graduou-se em Letras, língua portuguesa, e desenvolve tese de
doutoramento sobre a formação de leitores de textos na Internet. Publicou Poesinha (Poesia Orbital, 1997) e Perversa (Ciência do Acidente, 2002),
além de minicontos e poemas em revistas e jornais, no Brasil e em Portugal. É
cronista do site Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com).
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Peças
de madeira em pau-marfim
A
linha dos olhos
faz
flechas da cor de futuros
As
mãos formam conchas
de
pegar contentamentos
Os
pés são grandes como
as
telas holandesas realistas
O
corpo inteiro é um tabuleiro
de
jogar jogos de azar
As
costas quadriculadas
As
coxas quadriculadas
A
boca quadriculada
Onde
eu me finjo
de
dama
***
Antigüidade
d’onde viemos
Péricles
disse que a maior virtude de uma mulher
Era
ficar calada.
Péricles
se fodeu.
Péricles,
hoje, levaria uma surra
dada
por mil mulheres como eu.
***
Ciuminho
básico
escuta
calado
a
proposta rude
deste
meu
ciúme:
vou
cercar tua boca
com
arame farpado
pôr
cerca elétrica
ao
redor dos braços
na
envergadura
pra
bloquear o abraço
vou
serrar teus sorrisos
deixar
apenas os sisos
esculhambar
com teus olhos
furá-los
com farpas
queimar
os cabelos
no
pau acendo uma tocha
que
se apague apenas
ao
sinal da minha xota
finco
no cu uma placa
"não
há vagas, vagabundas"
na
bunda ponho uma cerca
proíbo
os arrepios
exceto
os de medo
e
marco no lombo, a brasa,
a
impressão única do meu dedo.
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