|
Zeferino Antônio de Souza Brazil, filho de João Antonio de Souza
e de Fausta Carolina de Souza, nasceu em 24 de abril de 1870, em Porto Grande,
distrito ribeirinho de Taquari. Em 1879, mudou-se para a capital provincial do
Rio Grande do Sul, onde exerceu diversas funções até ingressar, em 17 de agosto
de 1889, através de concurso, no funcionalismo público, como oficial do Tesouro
do Estado. Em 1890, conheceu Celina Ribeiro Totta, com quem se casou em 1891.
Zeferino Brazil firmou-se como cronista, romancista, dramaturgo, crítico, mas a
sua marca pessoal, como artista da palavra, foi a poesia, obtendo, por isso, o
epíteto “Príncipe dos poetas rio-grandenses”, devido à sua expressiva e notória
sensibilidade poética: “romancista de vastos recursos, prosador imaginoso e
ágil, lidador da imprensa diária, humorista fino e mordaz, orador elegante e
fluente, tudo isto Zeferino Brasil (sic) conseguiu ser! O Poeta, porém,
constituía o feitio integral daquele espírito cheio de harmonias e de doçuras
infindas!”, conforme Augusto de Carvalho. Colaborou com vários jornais usando,
além do nome Zeferino Brazil, vários pseudônimos, dentre eles, conforme o
próprio autor: Nilo Castanheira, João Simplício, Lúcifer, Til, João da Ega, Eça
de Oliveira, Brás Patife Júnior, José dos Cantinhos, Zézinho, Tic, Tac e Diabo
Coxo, no Jornal do Comércio; Eça de
Oliveira, Diabo Coxo, Celino Délio, Vasco de Montarroyos, NC, Phoebus de
Montalvão e Diávolo, no Correio do Povo;
Luiz Deniz na primeira fase da Última
Hora e na Gazeta do Comércio. Entre
muitos livros publicados, encontram-se: Alegros
e surdinas (versos dos 15 anos) – 1891, em Porto Alegre, pela Livraria Americana;
Traços cor de rosa (verso) – 1892, em
Porto Alegre, por Oficinas tipográficas do Jornal do Comércio. Comédia da Vida – 1896-1897, em Porto
Alegre, pela Tipografia Jornal do Comércio; Juca,
o letrado (estudo da psicologia mórbida) – 1900, em Porto Alegre, pela
Tipografia do Correio do Povo; Vovó musa
– 1903, em Porto Alegre, por Brasil Meridional; Visão do ópio – 1906, em Porto Alegre, por L. P. Barcellos &
Cia. - Livraria do Globo; Torre de marfim
– 1910, Porto Alegre, pelas Oficinas da Livraria do Globo; Comédia da vida. Versos alegres para gente triste. 2ª série. –
1914, Porto Alegre, pelas Oficinas tipográficas de Carlos Echenique...
|
ZELOS
De
leve, beijo as suas mãos pequenas,
alvas,
de neve, e, logo, um doce, um breve,
fino
rubor lhe tinge a face, apenas
de
leve beijo as suas mãos de neve.
Ela
vive entre lírios e açucenas,
e
o vento a beija, e, corno o vento, deve
ser
o meu beijo em suas mãos serenas,
—
Tão leve o beijo, como o vento é leve.. .
Que
essa divina flor, que é tão suave,
ama
o que é leve, como um leve adejo
de
vento ou como um garganteio de ave,
e
já me basta, para meu tormento,
saber
que o vento a beija, e que o meu beijo
nunca
será tão leve como o vento.. .
***
FORMOSURA IDEAL
Esta
visão que em sonhos me aparece,
e
que, mesmo sonhando, me resiste,
por
que foge, por que desaparece,
mal
eu desperto, apaixonado e triste?
Por
que, branca e formosa resplandece
como
uma estrela, e a torturar-me insiste,
se
é certo, - oh! dor cruel que me enlouquece!...
que
ela somente no meu sonho existe?
Cheia
de luz e de pureza e graça,
-
alma de flor e coração de estrela -
ela,
sorrindo, nos meus sonhos passa...
E
sempre a mesma angústia dolorida:
branca
e formosa dentro d´alma tê-la,
sem
poder dar-lhe forma e dar-lhe vida!
***
NA ALCOVA
Formosa
e diáfana visão de lenda,
Elsa,
subindo o leito de escarlata,
o
cortinado cerra, e a rir, desvenda
a
alva nudez escultural e exata.
Antes
que o fino laço se desprenda,
a
loura coma em ondas se desata,
e
a moça esconde em flóculos de renda
o
régio corpo modelado em prata.
Doce
perfume o colo lhe embalsama...
Abrindo
as asas de rubi e lhama,
olha-a,
entre flores, um cupido louro...
Cerra,
afinal, as pálpebras de neve,
e
o sonho desce, e estende, leve, leve,
sobre
o leito o estrelado manto de ouro...
Meu tataravo
ResponderExcluir