quarta-feira, 15 de agosto de 2012

JUÓ BANANÉRE (1892-1933)

JUÓ BANANÉRE, pseudônimo de Alexandre Ribeiro Marcondes Machado. Bananére é um dos raros casos de poeta exclusivamente humorístico (outros são, em geral, autores "sérios" e "tristes" que se permitem alguma pausa para descontração num poema "menor"), sua importância transcende a sátira e a paródia e se conecta a procedimentos modernistas como a subversão métrica e o poema-piada. Mais singular é o fato de vazar sua obra no macarrônico ítalo-paulistanês (ou luso-carcamano, como refere Idel Becker), caricaturando o sotaque da mais arraigada colônia européia na metrópole. Ainda segundo Becker, este engenheiro civil era um entusiasta da arquitetura colonial. Fundador do semanário O Pirralho e do Diário do Baixo Piques (“Semanale di grande impurtanza. Proprietá di una suciatá anônima cumpletamente discunhecida. Direttore: Cav. Uff. Juó Bananére"), deixou um único livro, La Divina Increnca (1925), reunindo desde trovas até contos e textos teatrais, passando, naturalmente, pelo soneto, cujo coreto sai definitivamente bagunçado. Segundo Otto Maria Carpeaux, "Juó Bananére é um produto legítimo, mas, antes de tudo, produto completo da velha cidade, do Largo de S. Francisco, da Avenida S. João, do Brás, da Barra Funda. No seu cancioneiro paulistano, tudo isso está presente"; "Juó Bananére pode ser considerado como precursor do modernismo, para o qual contribuiu, desmoralizando os deuses parnasianos. Mas também foi precursor de outros modernismos mais radicais: de modificações sociais que só hoje são plenamente percebidas em São Paulo e no Brasil." Na galeria dos tipos satirizados pelo poeta dialetal estão um presidente da República Velha (o marechal Hermes da Fonseca, referido como Hermeze ou Dudu), sua noiva Nair de Teffé (referida como Nairia), um vereador paulistano (o coronel José Piedade, referido como Garonello ou Piedadó e também presente na sátira de outro poeta, Moacir Piza) e um professor da Faculdade de Direito (Spencer Vampré, referido como Vapr'elli).







UVI STRELLA
[de Bilac em "Ouvir estrelas"]


Che scuitá strella, né meia strella!
Vucê stá maluco! e io ti diró intanto,
Chi p'ra iscuitalas moltas veiz livanto,
I vô dá una spiada na gianella.

I passo as notte acunversáno co'ella,
Inguanto che as otra lá d'un canto
Stó mi spiano. I o sol come un briglianto
Nasce. Oglio p'ru céu: — Cadê strella?!

Direis intó: — Ó migno inlustre amigo!
O chi é chi as strellas ti dizia
Quano illas viéro acunversá contigo?

E io ti diró: — Studi p'ra intendela,
Pois só chi giá studô Astrolomia,
É capaiz de intendê istas strella.



***



SUNETTO CRÁSSICO [de Camões em "Sete anos de pastor"]


Sette anno di pastore, Giacó servia Labó,
Padre da Raffaela, serrana bella,
Ma non servia o pai, che illo non era troxa nó!
Servia a Raffaela p'ra si gazá co'ella.

I os dia, na esperanza di un dia só,
Apassava spiáno na gianella;
Ma o páio, fugino da gumbinaçó,
Deu a Lia inveiz da Raffaela.

Quano o Giacó adiscobri o ingano,
E che tigna gaído na sparrella,
Ficô c'un brutto d'un garó di arara.

I incominció di servi otros sette anno
Dizeno: Si o Labó non fossi o pai della
Io pigava elli i lí quibrava a gara.



***




A DIFÚNTIMA

pra memória da Juòquina



Deitada num gaxó di quinta crasse,
Branga i gilada uguali da sorbeta,
A bocca della pareci chi afalassi
Con ciúme di io cazá co'a Marietta.

Molhér ch'io amê come ninguê ti amassi,
Fui indisgançá na úrtima valeta
Co'as monzinha erguida ingoppa a face
Branga i gilada uguali da sorbeta.

Se tu mi amassi inveiz di mi inganá,
Si fossi fiér inveiz di mi traiçoá,
Si non tivessi stado tó fogueta,

Tu certamente aóra non staria
No o fondo do gaxó gilada i fria,
Branga i gilada uguali da sorbeta.


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