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JUÓ BANANÉRE, pseudônimo de Alexandre Ribeiro Marcondes
Machado. Bananére é um dos raros casos de poeta exclusivamente humorístico
(outros são, em geral, autores "sérios" e "tristes" que se
permitem alguma pausa para descontração num poema "menor"), sua
importância transcende a sátira e a paródia e se conecta a procedimentos modernistas
como a subversão métrica e o poema-piada. Mais singular é o fato de vazar sua
obra no macarrônico ítalo-paulistanês (ou luso-carcamano, como refere Idel
Becker), caricaturando o sotaque da mais arraigada colônia européia na
metrópole. Ainda segundo Becker, este engenheiro civil era um entusiasta da
arquitetura colonial. Fundador do semanário O
Pirralho e do Diário do Baixo Piques (“Semanale
di grande impurtanza. Proprietá di una suciatá anônima cumpletamente
discunhecida. Direttore: Cav. Uff. Juó Bananére"), deixou um único
livro, La Divina Increnca (1925), reunindo desde trovas até contos e textos teatrais,
passando, naturalmente, pelo soneto, cujo coreto sai definitivamente bagunçado.
Segundo Otto Maria Carpeaux, "Juó Bananére é um produto legítimo, mas,
antes de tudo, produto completo da velha cidade, do Largo de S. Francisco, da
Avenida S. João, do Brás, da Barra Funda. No seu cancioneiro paulistano, tudo
isso está presente"; "Juó Bananére pode ser considerado como
precursor do modernismo, para o qual contribuiu, desmoralizando os deuses
parnasianos. Mas também foi precursor de outros modernismos mais radicais: de
modificações sociais que só hoje são plenamente percebidas em São Paulo e no
Brasil." Na galeria dos tipos satirizados pelo poeta dialetal estão um
presidente da República Velha (o marechal Hermes da Fonseca, referido como
Hermeze ou Dudu), sua noiva Nair de Teffé (referida como Nairia), um vereador
paulistano (o coronel José Piedade, referido como Garonello ou Piedadó e também
presente na sátira de outro poeta, Moacir Piza) e um professor da Faculdade de
Direito (Spencer Vampré, referido como Vapr'elli).
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UVI STRELLA [de Bilac em "Ouvir estrelas"]
Che
scuitá strella, né meia strella!
Vucê stá
maluco! e io ti diró intanto,
Chi p'ra
iscuitalas moltas veiz livanto,
I vô dá
una spiada na gianella.
I passo
as notte acunversáno co'ella,
Inguanto
che as otra lá d'un canto
Stó mi
spiano. I o sol come un briglianto
Nasce.
Oglio p'ru céu: — Cadê strella?!
Direis
intó: — Ó migno inlustre amigo!
O chi é
chi as strellas ti dizia
Quano
illas viéro acunversá contigo?
E io ti
diró: — Studi p'ra intendela,
Pois só
chi giá studô Astrolomia,
É capaiz
de intendê istas strella.
***
SUNETTO CRÁSSICO [de Camões em "Sete anos de pastor"]
Sette
anno di pastore, Giacó servia Labó,
Padre da
Raffaela, serrana bella,
Ma non
servia o pai, che illo non era troxa nó!
Servia a
Raffaela p'ra si gazá co'ella.
I os dia,
na esperanza di un dia só,
Apassava
spiáno na gianella;
Ma o
páio, fugino da gumbinaçó,
Deu a Lia
inveiz da Raffaela.
Quano o
Giacó adiscobri o ingano,
E che
tigna gaído na sparrella,
Ficô c'un
brutto d'un garó di arara.
I
incominció di servi otros sette anno
Dizeno:
Si o Labó non fossi o pai della
Io pigava
elli i lí quibrava a gara.
***
A DIFÚNTIMA
pra memória da
Juòquina
Deitada
num gaxó di quinta crasse,
Branga i
gilada uguali da sorbeta,
A bocca
della pareci chi afalassi
Con ciúme
di io cazá co'a Marietta.
Molhér
ch'io amê come ninguê ti amassi,
Fui
indisgançá na úrtima valeta
Co'as
monzinha erguida ingoppa a face
Branga i
gilada uguali da sorbeta.
Se tu mi
amassi inveiz di mi inganá,
Si fossi
fiér inveiz di mi traiçoá,
Si non
tivessi stado tó fogueta,
Tu
certamente aóra non staria
No o
fondo do gaxó gilada i fria,
Branga i
gilada uguali da sorbeta.
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