EU VI DOIS PÓLOS...
Eu vi dos
pólos o gigante alado
sobre um montão de pálidos coriscos,
sem fazer caso dos bulcões ariscos
devorando em silêncio a mão do fado.
Cinco fatias de tufão gelado,
figuravam na mesa entre os petiscos,
envolto em crepe de fatais rabisco
campeava o sofisma ensangüentado.
Quem és? Que assim me cercas de episódios
lhe perguntei com voz de silogismo,
brandindo um facho de trovões serôdios!
Eu sou, me disse, aquele anacronismo
que a vil caterva de sulfúricos ódios,
nas trevas sepultei de um solecismo.
sobre um montão de pálidos coriscos,
sem fazer caso dos bulcões ariscos
devorando em silêncio a mão do fado.
Cinco fatias de tufão gelado,
figuravam na mesa entre os petiscos,
envolto em crepe de fatais rabisco
campeava o sofisma ensangüentado.
Quem és? Que assim me cercas de episódios
lhe perguntei com voz de silogismo,
brandindo um facho de trovões serôdios!
Eu sou, me disse, aquele anacronismo
que a vil caterva de sulfúricos ódios,
nas trevas sepultei de um solecismo.
***
ILUSÃO DESFEITA
"Oh!
acredita, nunca olhar de virgem
Coou-me
n'alma tanto ardor assim;
Nunca
amor me sorriu com tanta graça
Em lábios
de carmim!
"Tu
és o anjo sonhado que minha alma
Aos céus
pedia; - a flor que em meus caminhos
Encontrei
a sorrir pura e fragrante
Do mundo
entre os espinhos.
"Pio
romeiro, irei aos pés depor-te
Oferenda
singela, porém fida;
A ti a
lira e o coração do bardo!...
A ti a
minha vida.
"Cantar-te
as graças, e mandar teu nome
Unido ao
meu aos séculos vindouros,
Seria
para mim melhor que um trono,
Melhor
que mil tesouros.
"Porém
passar meus dias a teu lado,
Ouvir-te
as falas, contemplar-te o riso,
Gozar
teus mimos, fôra para esta alma
Melhor
que o paraíso!"
------------------------
Assim
dizia-te eu naquele dia,
- O mais
doce talvez da minha vida,
Em que na
meiga luz desses teus olhos
Minha
alma vi perdida.
Foi um
sonho fugaz; - breve delírio.
De novo
tenho o coração vazio;
E se no
peito meu a mão pousares,
Achá-lo-ás
bem frio!..
Caíste
enfim da região de encantos,
A que
meus puros sonhos te elevaram;
Desfez-se
o talismã; - foram-se enganos,
Que
outrora me embalaram.
Perdeste
um coração que te adorava...
Porém que
importa? se por um, que esfria,
Mil
outros corações após teus risos
Vão
correndo à porfia.
Mas não
receies que eu maldiga aquela
Que num
momento a vida me dourara;
E que num
pego de emoções bem doces
Outrora
me entranhara.
Oh! não
receies, não, que eu te maldiga;
Graças a
ti, aprendo hoje por fim
A não
crer tanto nos fagueiros risos
De uns
lábios de rubim.
Proveitosa
lição nos fica n'alma,
Quando a
ilusão se esvai:
Deixa um fruto
no ramo, em que nascera
A flor,
que murcha e cai.
A ORIGEM DO MÊNSTRUO
De uma fábula inédita de Ovídio,
achada
nas escavações de Pompéia e vertida
em latim vulgar por Simão de Nuntua.
nas escavações de Pompéia e vertida
em latim vulgar por Simão de Nuntua.
'Stava Vênus gentil junto da fonte
fazendo o seu pentelho,
com todo o jeito, pra que não ferisse
das cricas o aparelho.
fazendo o seu pentelho,
com todo o jeito, pra que não ferisse
das cricas o aparelho.
Tinha que
dar o cu naquela noite
ao grande pai Anquises,
o qual, com ela, se não mente a fama,
passou dias felizes...
ao grande pai Anquises,
o qual, com ela, se não mente a fama,
passou dias felizes...
Rapava
bem o cu, pois resolvia
na mente altas idéias:
- ia gerar naquela heróica foda
o grande e pio Enéias.
na mente altas idéias:
- ia gerar naquela heróica foda
o grande e pio Enéias.
Mas a
navalha tinha o fio rombo,
e a deusa, que gemia,
arrancava os pentelhos e, peidando,
caretas mil fazia!
e a deusa, que gemia,
arrancava os pentelhos e, peidando,
caretas mil fazia!
Nesse
entretanto, a ninfa Galatéia,
acaso ali passava,
e vendo a deusa assim tão agachada,
julgou que ela cagava...
acaso ali passava,
e vendo a deusa assim tão agachada,
julgou que ela cagava...
Essa
ninfeta travessa e petulante
era de gênio mau,
e por pregar um susto à mãe do Amor
atira-lhe um calhau...
era de gênio mau,
e por pregar um susto à mãe do Amor
atira-lhe um calhau...
Vênus se
assusta. A Branca mão mimosa
se agita alvoroçada,
e no cono lhe prega (oh! caso horrendo!)
tremenda navalhada.
se agita alvoroçada,
e no cono lhe prega (oh! caso horrendo!)
tremenda navalhada.
Da
nacarada cona, em sutil fio,
corre pupúrea veia,
e nobre sangue do divino cono
as águas purpurcia...
corre pupúrea veia,
e nobre sangue do divino cono
as águas purpurcia...
(É fama
que quem bebe dessas águas
jamais perde a tensão
e é capaz de foder noites e dias,
até no cu de um cão!)
jamais perde a tensão
e é capaz de foder noites e dias,
até no cu de um cão!)
-
"Ora porra" - gritou a deusa irada,
e nisso o rosto volta...
E a ninfa, que conter-se não podia,
uma risada solta.
e nisso o rosto volta...
E a ninfa, que conter-se não podia,
uma risada solta.
A
travessa menina mal pensava
que, com tal brincadeira,
ia ferir a mais mimosa parte
da deusa regateira...
que, com tal brincadeira,
ia ferir a mais mimosa parte
da deusa regateira...
-
"Estou perdida!" - trêmula murmura
a pobre Galatéia,
vendo o sangue correr do rósco cono
da poderosa déia...
a pobre Galatéia,
vendo o sangue correr do rósco cono
da poderosa déia...
Mas era
tarde! A Cípria, furibunda,
por um momento a encara,
e, após instantes, com severo acento,
nesse clamor dispara:
por um momento a encara,
e, após instantes, com severo acento,
nesse clamor dispara:
"Vê!
Que fizeste, desastrada ninfa,
que crime cometeste!
Que castigo há no céu, que punir possa
um crime como este?!
que crime cometeste!
Que castigo há no céu, que punir possa
um crime como este?!
Assim,
por mais de um mês inutilizas
o vaso das delícias...
E em que hei de gastar das longas noites
as horas tão propícias?
o vaso das delícias...
E em que hei de gastar das longas noites
as horas tão propícias?
Ai! Um
mês sem foder! Que atroz suplício...
Em mísero abandono,
que é que há de fazer, por tanto tempo,
este faminto cono?...
Em mísero abandono,
que é que há de fazer, por tanto tempo,
este faminto cono?...
Ó Adonis!
Ó Júpiter potentes!
E tu, mavorte invito!
E tu, Aquiles! Acudi de pronto
da minha dor ao grito!
E tu, mavorte invito!
E tu, Aquiles! Acudi de pronto
da minha dor ao grito!
Este vaso
gentil que eu tencionava
tornar bem fresco e limpo
para recreio e divinal regalo
dos deuses do Alto Olimpo.
tornar bem fresco e limpo
para recreio e divinal regalo
dos deuses do Alto Olimpo.
Vede seu
triste estado, ó! Que esta vida
em sangue já se esvai-me!
Ó Deus, se desejais ter foda certa
vingai-vos e vingai-me!
em sangue já se esvai-me!
Ó Deus, se desejais ter foda certa
vingai-vos e vingai-me!
Ó ninfa,
o teu cono sempre atormente
perpétuas comichões,
e não aches quem jamais nele queira
vazar os seus colhões...
perpétuas comichões,
e não aches quem jamais nele queira
vazar os seus colhões...
Em negra
podridão imundos vermes
roam-te sempre a crica
e à vista dela sinta-se banzeira
a mais valente pica!
roam-te sempre a crica
e à vista dela sinta-se banzeira
a mais valente pica!
De eterno
esquentamento flagelada,
verta fétidos jorros,
que causem tédio e nojo a todo mundo,
até mesmo aos cachorros!"
verta fétidos jorros,
que causem tédio e nojo a todo mundo,
até mesmo aos cachorros!"
Ouviu-lhe
estas palavras piedosas
do Olimpo o Grão-Tonante,
que em pívia ao sacana do Cupido
comia nesse instante...
do Olimpo o Grão-Tonante,
que em pívia ao sacana do Cupido
comia nesse instante...
Comovido
no íntimo do peito,
das lástimas que ouviu,
manda ao menino que, de pronto, acuda
à puta que o pariu...
das lástimas que ouviu,
manda ao menino que, de pronto, acuda
à puta que o pariu...
Ei-lo
que, pronto, tange o veloz carro
de concha alabastrina,
que quatro aladas porras vão tirando
na esfera cristalina
de concha alabastrina,
que quatro aladas porras vão tirando
na esfera cristalina
Cupido
que as conhece e as rédeas bate
da rápida quadriga,
co'a voz ora as alenta, ora co'a ponta
das setas as fustiga.
da rápida quadriga,
co'a voz ora as alenta, ora co'a ponta
das setas as fustiga.
Já desce
aos bosques onde a mãe, aflita,
em mísera agonia,
com seu sangue divino o verde musgo
de púrpura tingia...
em mísera agonia,
com seu sangue divino o verde musgo
de púrpura tingia...
No carro
a toma e num momento chega
à olímpica morada,
onde a turba dos deuses, reunida,
a espera consternada!
à olímpica morada,
onde a turba dos deuses, reunida,
a espera consternada!
Já
Mercúrio de emplastros se a aparelha
para a venérea chaga,
feliz porque naquele curativo
espera certa a paga...
para a venérea chaga,
feliz porque naquele curativo
espera certa a paga...
Vulcano,
vendo o estado da consorte,
mil pragas vomitou...
Marte arranca um suspiro que as abóbadas
celestes abalou...
mil pragas vomitou...
Marte arranca um suspiro que as abóbadas
celestes abalou...
Sorriu o
furto a ciumenta Juno,
lembrando o antigo pleito,
e Palas, orgulhosa lá consigo,
resmoneou: - "Bem-feito!"
lembrando o antigo pleito,
e Palas, orgulhosa lá consigo,
resmoneou: - "Bem-feito!"
Coube a
Apolo lavar dos roxos lírios
o sangue que escorria,
e de tesão terrível assaltado,
conter-se mal podia!
o sangue que escorria,
e de tesão terrível assaltado,
conter-se mal podia!
Mas,
enquanto se faz o curativo,
em seus divinos braços,
Jove sustém a filha, acalentando-a
com beijos e com abraços.
em seus divinos braços,
Jove sustém a filha, acalentando-a
com beijos e com abraços.
Depois,
subindo ao trono luminoso,
com carrancudo aspeto,
e erguendo a voz troante, fundamenta
e lavra este DECRETO:
com carrancudo aspeto,
e erguendo a voz troante, fundamenta
e lavra este DECRETO:
-"Suspende,
ó filha, os lamentos justos
por tão atroz delito,
que no tremendo Livro do Destino
de há muito estava escrito.
por tão atroz delito,
que no tremendo Livro do Destino
de há muito estava escrito.
Desse
ultraje feroz será vingado
o teu divino cono,
e as imprecações que fulminaste
agora sanciono.
o teu divino cono,
e as imprecações que fulminaste
agora sanciono.
Mas, inda
é pouco: - a todas as mulheres
estenda-se o castigo
para expiar o crime que esta infame
ousou para contigo...
estenda-se o castigo
para expiar o crime que esta infame
ousou para contigo...
Para
punir tão bárbaro atentado,
toda humana crica,
de hoje em diante, lá de tempo em tempo,
escorra sangue em bica...
toda humana crica,
de hoje em diante, lá de tempo em tempo,
escorra sangue em bica...
E por
memória eterna chore sempre
o cono da mulher,
com lágrimas de sangue, o caso infando,
enquanto mundo houver..."
o cono da mulher,
com lágrimas de sangue, o caso infando,
enquanto mundo houver..."
Amém!
Amém! com voz atroadora
os deuses todos urram!
E os ecos das olímpicas abóbadas,
Amém! Amém! Sussurram.
os deuses todos urram!
E os ecos das olímpicas abóbadas,
Amém! Amém! Sussurram.
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