Noite
As
casas fecham as pálpebras das janelas e dormem.
Todos os rumores são postos em surdina, todas as luzes se apagam.
Há
um grande aparato de câmara funerária
na paisagem do mundo.
Os
homens ficam rígidos,
tomam a posição horizontal e ensaiam o próprio cadáver.
Cada
leito é a maquete de um túmulo.
Cada sono em ensaio de morte.
No
cemitério da treva
tudo morre provisoriamente. |
***
Banzo
E
por que deixou na areia do Congo
a aldeia de palmas; e porque seus ídolos negros não fazem mais feitiços; e porque o homem branco o enganou com missangas e atulhou o porão do navio negreiro com seu desespero covarde; e porque não vê mais de ânfora ao ombro a imagem do conga nas águas do Kuango, ele fica na porta da senzala de mão no queixo e cachimbo na boca, varado de angústia, olhando o horizonte, calado, dormente, pensando, sofrendo, chorando. morrendo. |
***
Beleza
A
beleza das coisas te devasta
como o sol que fascina mas te cega. Delas contundo a luminosa entrega nunca se dá, melhor, nunca te basta.
E
a imensa paz que para além te arrasta
quanto mais se te esquiva ou te renega... Paz tão do alto e paz dessa macega que nos campos esplende à luz mais casta.
A
beleza te fere e todavia
afaga, uma emoção (sempre a primeira e nunca repetida) que conduz o teu deslumbramento para um dia à noite misturado, na clareira em que te sentes noite em plena luz. |
Grata por trazer-me de volta a beleza dos poemas de Menotti del Picchia!
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