A PALAVRA POESIA, POR EXEMPLO...
A palavra poesia, por exemplo,
roubada à sua forma dicionária,
não pode vigorar mais que um momento
se não se refletir no olhar de Mária.
E Mária, que se esquece, por completo
descuido ou prazer (quem tem certeza?)
de levar-se ao deixar as redondezas,
aos poucos, dando motes ao desejo,
recobre a superfície do planeta.
Por muito repetir-se em aquarelas,
vitrais, pessoas, gestos, sons e ruas,
sua forma sendo tantas, coisa alguma
a retém. Ela não cabe de uma vez
na memória – e ainda há mais Mária out of space.
***
E AGORA EM DESCONCERTO ME PERGUNTO...
E agora
em desconcerto me pergunto
onde
estou. Vou ver quem sou, volto mais mudo.
Ao
silêncio, então, me exponho e, novamente,
sucumbido
à solidão, calmo, entredentes,
vejo a
luz que interrompia as persianas,
ouço a música
dos corpos que eu tocava,
lembro os
gestos de uma busca alucinada
do prazer
que se antevia neles. Tantas,
tantas
vezes, porém, encontrei Lias
disfarçadas
entre as formas de Adrianas,
cada qual
plantada em sua própria ilha,
que, por
último, eu assim me esqueci
de
encontrar-me e, a cada instante que passava,
fiquei
nelas – eu assim que me perdi.
***
DO PONTO MAIS DISTANTE NA FLORESTA...
para Cláudia Bravim
Do ponto
mais distante na floresta
de asas e desejos que freqüentas
à hora em que te despes, meio a esmo,
aproveitando as brumas de um soneto;
dos rastos nos escombros de poemas
erigidos às portas do teu nome
à substância sombra, que te acolhe
num tempo sem saída e te represa,
de asas e desejos que freqüentas
à hora em que te despes, meio a esmo,
aproveitando as brumas de um soneto;
dos rastos nos escombros de poemas
erigidos às portas do teu nome
à substância sombra, que te acolhe
num tempo sem saída e te represa,
o meu
amor está nos arredores,
nas coisas que te servem de moldura –
e a elas me condeno: amar, insone,
às margens do teu corpo, que transmuda
o tudo quanto vejo em tua imagem,
nas coisas que te servem de moldura –
e a elas me condeno: amar, insone,
às margens do teu corpo, que transmuda
o tudo quanto vejo em tua imagem,
daqui até
o futuro é o que me cabe.
Bravo Silvério!!!!
ResponderExcluirPela publicação do maior poeta capixaba.
Estou organizando, ainda para este ano, a publicação da poesia completa de Miguel.
Um grande abraço,
Orgulho do Espírito Santo ter um poeta como Miguel. Orgulho de ser citada num dos poemas dele.
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