quarta-feira, 18 de julho de 2012

MIGUEL MARVILLA (1959 – 2009)


Miguel Arcanjo Marvilla de Oliveira é um poeta, contista e editor espírito-santense. Graduado em Letras e mestre em História Antiga pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), foi editor da revista Você e um dos fundadores da Flor&Cultura Editores. Foi membro da Academia Espírito-santense de Letras, na qual ocupava a cadeira número dezoito. Recebeu vários prêmios literários estaduais e nacionais, além de uma menção honrosa no III Concurso Literário Internacional da Áustria, em 1996. Obteve o primeiro lugar no Concurso de Poesia organizado pelo Sindicato dos Bancários do Espírito Santo, em 1994. Publicou poemas e ensaios em várias revistas e jornais do Espírito Santo e do Brasil. Organizou, juntamente com Maria Helena Teixeira de Siqueira, a coletânea Escritos entre dois séculos (Flor&cultura, 2000). Foi, ainda, organizador e editor do livro Crônicas Escolhidas de José Carlos Fonseca (Flor&Cultura, 2000). Viveu seus últimos anos em Vitória (ES), onde preparava a publicação de O Império Romano e o Reino dos Céus, no qual dicute a construção da imagem sagrada do imperador de De laudibus Constantini, de Eusébio de Cesarélia (século IV d.C.); Zoo-ilógico, poesia para crianças (inclusive as que já cresceram) e Beleléu e adjacências (romance), futuros lançamentos da Flor&Cultura Editores da flor e Cultura. Apaixonado por literatura, Marvilla era leitor fiel de García Marquéz e Umberto Eco. Sobre Márquez, Miguel declarara: “é a melhor literatura do planeta, ouso dizer, pulando sobre Umberto Eco, Shakespeare e Joyce.”







A PALAVRA POESIA, POR EXEMPLO...

A palavra poesia, por exemplo,
roubada à sua forma dicionária,
não pode vigorar mais que um momento
se não se refletir no olhar de Mária.

E Mária, que se esquece, por completo
descuido ou prazer (quem tem certeza?)
de levar-se ao deixar as redondezas,
aos poucos, dando motes ao desejo,

recobre a superfície do planeta.
Por muito repetir-se em aquarelas,
vitrais, pessoas, gestos, sons e ruas,

sua forma sendo tantas, coisa alguma
a retém. Ela não cabe de uma vez
na memória – e ainda há mais Mária out of space.


***


E AGORA EM DESCONCERTO ME PERGUNTO...


E agora em desconcerto me pergunto
onde estou. Vou ver quem sou, volto mais mudo.
Ao silêncio, então, me exponho e, novamente,
sucumbido à solidão, calmo, entredentes,

vejo a luz que interrompia as persianas,
ouço a música dos corpos que eu tocava,
lembro os gestos de uma busca alucinada
do prazer que se antevia neles. Tantas,

tantas vezes, porém, encontrei Lias
disfarçadas entre as formas de Adrianas,
cada qual plantada em sua própria ilha,

que, por último, eu assim me esqueci
de encontrar-me e, a cada instante que passava,
fiquei nelas – eu assim que me perdi.


***


DO PONTO MAIS DISTANTE NA FLORESTA...

para Cláudia Bravim



Do ponto mais distante na floresta
de asas e desejos que freqüentas
à hora em que te despes, meio a esmo,
aproveitando as brumas de um soneto;

dos rastos nos escombros de poemas
erigidos às portas do teu nome
à substância sombra, que te acolhe
num tempo sem saída e te represa,
o meu amor está nos arredores,
nas coisas que te servem de moldura –
e a elas me condeno: amar, insone,

às margens do teu corpo, que transmuda
o tudo quanto vejo em tua imagem,
daqui até o futuro é o que me cabe.



2 comentários:

  1. Bravo Silvério!!!!
    Pela publicação do maior poeta capixaba.
    Estou organizando, ainda para este ano, a publicação da poesia completa de Miguel.

    Um grande abraço,

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  2. Orgulho do Espírito Santo ter um poeta como Miguel. Orgulho de ser citada num dos poemas dele.

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