quarta-feira, 11 de julho de 2012

PILIGRA (1954- )


O poeta Lorival Pereira Piligra Júnior, nasceu em Itabuna. Possui mestrado em Filosofia pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e autor do livro Fractais (1996). Seus poemas também podem ser encontrados em várias antologias, entre as quais: Diálogos (1ª e 2ª edições) – panorama da nova poesia grapiúna (Via Litterarum, 2009/2010) e na revista literária Tocaia (Ano I, nº 1: mai-jul, 2012) e sem seu próprio blog: http://kartei.blogspot.com.br





CONCEPÇÃO*

eu já concebo o verso assim metrificado
como arquiteto que planeja um edifício
na exatidão do prumo reto e equilibrado
sem perguntar se isto é fácil ou é difícil…
-
eu já concebo a rima assim – intercalada,
numa urdidura trabalhosa e singular –
puxando o fio de cada sílaba marcada
pelo tecido de uma métrica sem “sem par”!
-
eu já concebo o meu soneto alexandrino
(como a matriz de uma equação vetorial)
fazendo cálculo semântico e verbal
-
com  meu compasso atrapalhado de menino!
eu já concebo o meu poema ornamental,
como operário que dá forma ao que é divino!


***

UM BEIJA-FLOR

um beija-flor pousou na minha poesia
com sutileza como um anjo iluminado,
seu olhar divino me deixou impressionado
- doce metáfora de um verso à luz do dia...

o beija-flor ficou me olhando ali parado,
simples paisagem da mais pura fantasia,
seu olhar de flor brilhou com força e alegria
- jardim suspenso, no meu verso eternizado...

um beija-flor pousou seus pés de sutileza
na minha alma de poeta embrionário,
um filme lírico de amor e de beleza,
tela compondo, como um conto, o meu cenário...

- o beija-flor agora sonha que é um canário
e canta hinos pra alegrar minha tristeza!

***


Velas para a morte

Roubo da noite a negra face envenenada
e luto contra a dor terrível da distância,
deixo em silêncio o medo lírico da infância,
mato de fome a boca insana e renegada...

Mastigo os ossos da soberba e da ganância,
invisto contra a solidão de todo nada,
supero a fúria de uma mente atordoada,
venço o combate contra a trágica arrogância...

Enfrento a Gôrgona no vale dos tormentos,
frente ao destino, digo apenas: “outra vez”,
deito em meu colo a língua de um dragão chinês,
adestro Cérbero e supero os meus lamentos...

- Depois me curvo, simples servo em seu altar,
e “acendo velas para a morte vir rezar...”





*Seleção de poemas sugerida pelo poeta Gustavo Felicíssimo

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